A economia mundial está direcionada para registrar na década de 2020 o crescimento mais lento dos últimos 60 anos, segundo nova previsão do Banco Mundial. A instituição estima que o avanço médio do Produto Interno Bruto global neste período será de 2,5%, representando o menor desempenho registrado em qualquer década desde os anos 1960.
A revisão das projeções também atingiu as expectativas para 2025, com o Banco Mundial reduzindo a previsão de crescimento do PIB global de 2,7% para 2,3%. Essa taxa representa o menor índice desde 2008, excluindo-se os anos marcados por recessões generalizadas.
O relatório semestral Global Economic Prospects, divulgado recentemente, identifica a discórdia internacional, particularmente no âmbito comercial, como um dos principais fatores responsáveis pela desaceleração econômica. A turbulência geopolítica e comercial é apontada como responsável por reduzir quase meio ponto percentual da taxa de crescimento do PIB global esperada no início do ano.
As tensões comerciais entre Estados Unidos e China ocupam posição central na análise do Banco Mundial. As tarifas impostas pelo presidente Donald Trump aos parceiros comerciais americanos são destacadas como fator importante para as economias mundiais. No caso específico da China, as tarifas chegaram a atingir 145% e devem se estabilizar em 55% após um novo acordo comercial entre os países.
O relatório ressalta a incerteza que permeia as políticas comerciais globais, observando que as taxas tarifárias vigentes em 27 de maio devem prevalecer durante todo o período de previsão, embora essa premissa carregue notável incerteza. A instituição alerta que o crescimento pode ser ainda menor caso as restrições comerciais aumentem ou se a incerteza política persistir, cenário que também pode resultar em aumento do estresse financeiro global.
A disparidade na recuperação econômica entre diferentes grupos de países representa outro aspecto preocupante das projeções. O Banco Mundial prevê que, até 2027, o PIB per capita das economias de alta renda deve se aproximar dos níveis esperados antes da pandemia. Em contraste, os países em desenvolvimento podem necessitar de até 20 anos para recuperar as perdas econômicas da década de 2020, com exceção da China.
A análise histórica apresentada pelo vice-presidente sênior e economista-chefe do Banco Mundial, Indermit Gill, revela uma tendência preocupante de desaceleração nas economias em desenvolvimento. O crescimento médio dessas economias vem diminuindo há três décadas consecutivas, saindo de 5,9% nos anos 2000 para 5,1% nos anos 2010 e chegando a 3,7% nos anos 2020.
Gill observa que as forças motrizes do crescimento econômico dos últimos 50 anos, período no qual o PIB per capita dos países em desenvolvimento quase quadruplicou, sofreram uma reviravolta significativa. O economista destaca que o investimento tem crescido em ritmo progressivamente mais fraco, enquanto simultaneamente observa-se um acúmulo crescente de dívida nesses países.
Essa combinação de fatores aponta para desafios estruturais que vão além das questões conjunturais, sugerindo a necessidade de reformas profundas nas políticas econômicas globais para reverter a trajetória de desaceleração e promover um crescimento mais sustentável e equitativo entre diferentes regiões do mundo.