A agência de classificação de risco Fitch reafirmou nesta quinta-feira (26) o rating do Brasil em ‘BB’, com perspectiva estável, mas fez alertas sobre a trajetória preocupante da dívida pública e os riscos fiscais que continuam pressionando a credibilidade econômica do país. Segundo a agência, a relação entre a dívida bruta do governo geral e o Produto Interno Bruto (PIB) deve alcançar 79,3% em 2025, crescendo a uma média de três pontos percentuais por ano — uma taxa significativamente superior à mediana de 53% observada entre países com o mesmo grau de risco (‘BB’).
No relatório, a Fitch reconheceu que o Tesouro Nacional conseguiu financiar o déficit fiscal por meio do mercado doméstico, com destaque para o aumento da emissão de LFTs — títulos públicos atrelados à Selic. A agência observou que o governo brasileiro contou com um colchão de liquidez robusto, equivalente a 7,5% do PIB em abril, para lidar com a volatilidade recente nos mercados financeiros.
Apesar dessa resiliência no curto prazo, a agência destaca que o cenário fiscal brasileiro continua frágil. A Fitch aponta que o Executivo enfrenta crescente resistência do Congresso Nacional a novas medidas de aumento de arrecadação, ao passo que a pressão por mais gastos públicos permanece elevada. Nesse contexto, a própria tentativa do governo de apresentar um pacote fiscal no fim de 2023, com o objetivo de melhorar o arcabouço orçamentário, acabou aumentando as incertezas e provocando instabilidade no mercado.
Para 2025, a expectativa da Fitch é que o déficit primário fique em torno de 0,6% do PIB. No entanto, a agência ressalta que o cumprimento dessa meta dependerá do uso de medidas paliativas caso o governo não consiga ampliar a arrecadação. Além disso, os gastos com juros — que não estão sujeitos ao novo arcabouço fiscal — devem subir devido à manutenção da taxa Selic em patamar elevado, o que levaria o déficit nominal do governo geral (incluindo União, estados e municípios, mas excluindo o Banco Central) a 8% do PIB, ante 6,6% em 2023.
Entre os fatores que limitam a nota de crédito do Brasil, a Fitch cita a rigidez orçamentária, a elevada e crescente dívida pública, os baixos índices de popularidade do governo e o crescimento estruturalmente fraco da economia. A agência também destacou que as incertezas fiscais seguem sendo o principal risco macroeconômico para o país, e que não se espera maior clareza sobre eventuais reformas estruturais antes das eleições de 2026.
Por outro lado, a agência considera que o Brasil mantém alguns fundamentos que sustentam a nota atual, como uma economia grande e diversificada, contas externas sólidas, baixa dependência de dívida em moeda estrangeira e a existência de um mercado doméstico de capitais capaz de financiar as necessidades do governo.
A Fitch encerra o relatório afirmando que, embora o ambiente de mercado em 2025 tenha se mostrado mais calmo — mesmo com a revogação do aumento do IOF e as discussões sobre isenção de Imposto de Renda para trabalhadores que ganham até dois salários mínimos —, a sustentabilidade da política fiscal brasileira continua sendo um ponto de atenção para investidores e agências de risco.