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Correios enfrentam rombo bilionário e cogitam pedir socorro ao governo

O temor do governo é que os Correios caminhem para uma situação de insolvência operacional

Os Correios alertaram o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a possibilidade de precisarem de um aporte financeiro bilionário da União para evitar um colapso nas contas da estatal. O aviso foi dado inicialmente ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e posteriormente reforçado em uma reunião ocorrida em 16 de junho na Casa Civil, com a presença dos ministros Rui Costa (Casa Civil), representantes das pastas da Fazenda, Gestão e Comunicações — à qual a empresa é vinculada.

O cenário traçado pela direção da estatal aponta a necessidade de um socorro que pode variar entre R$ 4 bilhões e R$ 5 bilhões, sendo cerca de R$ 2 bilhões apenas em 2025. No entanto, integrantes da equipe econômica já sinalizaram que não há espaço orçamentário para atender à demanda.

O presidente dos Correios, Fabiano Silva dos Santos, tem relatado pressões da Casa Civil para acelerar os cortes de despesas e pode deixar o cargo, cujo mandato termina em agosto. Interlocutores avaliam que uma possível troca na presidência seria uma forma política de justificar futuramente um eventual aporte de recursos.

A empresa vem acumulando prejuízos crescentes no governo Lula. Em 2023, o déficit foi de R$ 633,5 milhões, saltando para R$ 2,6 bilhões em 2024. Nos três primeiros meses de 2025, o rombo já soma R$ 1,7 bilhão — mais que o dobro do registrado no mesmo período de 2024.

Durante a reunião de junho, a presidência dos Correios apresentou projeções de fluxo de caixa e cenários que evidenciam a urgência de um apoio financeiro. A situação deve se agravar ainda mais em 2026, quando começam os pagamentos mais pesados de financiamentos já contratados.

Para conter o desequilíbrio, os Correios iniciaram a venda de imóveis, lançaram um Programa de Demissão Voluntária (PDV) e criaram um marketplace. Mesmo assim, queimaram caixa e recorreram a empréstimos para ganhar fôlego. Segundo o Banco Central, a estatal contratou R$ 1,8 bilhão em financiamentos com Citibank, BTG Pactual e Banco ABC Brasil — sem aval formal do Tesouro Nacional, mas sob risco implícito à União, sua única acionista.

Esses empréstimos são também uma tentativa de fortalecer os indicadores financeiros da estatal, com vistas à obtenção de um financiamento de R$ 3,8 bilhões junto ao Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o banco do Brics. A operação depende de uma garantia formal da União, condicionada à nota de capacidade de pagamento (Capag) da empresa.

Caso não consiga essa linha internacional, a estatal poderá solicitar um socorro ainda maior. Apesar das resistências da Fazenda, aliados ao presidente da companhia argumentam que uma injeção direta de recursos seria menos danosa do que o risco de tornar a empresa dependente do Tesouro. Isso obrigaria os Correios a serem incorporados ao Orçamento Federal, com limitações de remuneração, investimentos e aumento de despesas da ordem de R$ 20 bilhões ao ano — o que afetaria a regra do novo arcabouço fiscal.

O faturamento da empresa tem recuado, especialmente no segmento de postagens internacionais, cujas receitas caíram 58,4% no primeiro trimestre de 2025 em comparação com o mesmo período do ano anterior. Parte da perda é atribuída ao programa “Remessa Conforme”, que tirou protagonismo dos Correios na importação de pequenas encomendas, ao mesmo tempo em que aumentou a arrecadação federal com a cobrança da chamada “taxa das blusinhas”.

Por outro lado, os custos da estatal continuam a subir. Em 2024, os gastos com pessoal aumentaram 8,1%, e em 2025, essa tendência se manteve: só no primeiro trimestre, as despesas com pessoal subiram 9,1%, e os custos operacionais gerais, 3,2%.

Outro fator de pressão é o acordo de R$ 7,6 bilhões com o Postalis, fundo de pensão dos funcionários. Pactuado em 2020 e implementado a partir de 2023, o acordo prevê pagamentos mensais de cerca de R$ 30 milhões por 30 anos.

Diante de um quadro de receitas em queda, despesas em alta, passivos de longo prazo e endividamento crescente, o temor dentro do governo e da estatal é que os Correios caminhem para uma situação de insolvência operacional, tornando inevitável uma intervenção financeira do governo federal.

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