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Méliuz se reinventa como maior empresa detentora de bitcoin da América Latina

Em um movimento ousado para reacender o interesse do mercado, o fundador do Méliuz, Israel Salmen, decidiu transformar radicalmente o modelo de negócios da empresa. Antes focada em cashback, a companhia passou a direcionar seus esforços para a aquisição de bitcoins e se tornou a maior detentora corporativa do criptoativo na América Latina, superando nomes como o Mercado Livre. A estratégia, inicialmente vista como arriscada, resultou em valorização expressiva: desde a primeira grande compra de criptomoedas em março, as ações do Méliuz já subiram 85,25% até 7 de julho.

A cotação dos papéis, que chegou a flertar com os R$ 11 no período, superou o preço da oferta pública inicial (IPO) realizada em 2020, quando as ações estrearam a R$ 10. Esse patamar havia sido perdido em abril de 2022 e, até o início de 2024, os papéis operavam abaixo dos R$ 4, mesmo com a melhora operacional da empresa nos últimos anos. No mesmo intervalo, o bitcoin acumulou alta de cerca de 40%, mas a exposição indireta via Méliuz gerou retorno ainda maior para os acionistas.

Segundo Diego Kolling, diretor da estratégia de bitcoin do Méliuz, a iniciativa surgiu da percepção de que o mercado não reconhecia o valor intrínseco da empresa. “Nosso fundador estudou o tema e encontrou nessa abordagem uma forma de reinjetar atenção no papel”, afirmou. Para analistas do BTG Pactual, a incorporação de bitcoins ao caixa da empresa foi um mecanismo bem-sucedido de reinvenção e reposicionamento de mercado.

A estratégia permite que investidores tenham exposição indireta ao criptoativo com potencial de valorização superior ao próprio bitcoin, já que a empresa pode captar recursos e alocar esses montantes em novas compras da moeda digital. A prática, contudo, também eleva o risco, pois as ações passam a ter forte correlação com a volatilidade do bitcoin.

A mais recente aquisição do Méliuz — US$ 28,61 milhões em bitcoin — foi viabilizada por uma oferta de ações no valor de R$ 180 milhões realizada em junho. O BTG estima que novas emissões devem ocorrer com o mesmo objetivo, e projeta uma nova captação de R$ 250 milhões em 2026.

O modelo adotado pelo Méliuz se inspira na americana MicroStrategy, que transformou sua estrutura para concentrar a tesouraria em bitcoin. Atualmente, a empresa detém mais de US$ 62 bilhões do ativo digital — cerca de 2,5% da oferta global — e alcançou valor de mercado superior a US$ 100 bilhões. Pelo menos 70 companhias ao redor do mundo já replicaram a estratégia, da França ao Japão, e grande parte viu suas ações valorizarem substancialmente.

Durante a pandemia, o Méliuz surfou o crescimento do comércio eletrônico, mas desde 2022 vinha enfrentando dificuldades para recuperar o valor de mercado, mesmo após ajustes e crescimento no segmento de cashback. “Apesar da melhora operacional, a ação seguia desvalorizada, valendo menos do que a empresa possuía em caixa no fim de 2024”, afirmou Kolling. A guinada para o universo cripto, segundo ele, foi a maneira encontrada para destravar valor e reposicionar a empresa perante investidores.

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