A retaliação comercial prevista pelo governo federal como resposta à tarifa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode impactar diretamente parceiros comerciais do Brasil, importadores e consumidores brasileiros.
A avaliação consta em parecer técnico do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), chefiado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, elaborado durante a formulação do decreto que regulamenta a Lei da Reciprocidade Econômica, sancionada em abril e publicada na última terça-feira (15).
O parecer não menciona diretamente os Estados Unidos, mas alerta para os riscos associados à adoção de medidas como imposição de tarifas, restrições comerciais ou suspensão de patentes contra países que pratiquem coerção econômica. Embora admita os possíveis efeitos negativos, o documento ressalta que o decreto prevê etapas de negociação prévias, com o objetivo de buscar uma solução diplomática antes da adoção efetiva de contramedidas.
O texto foi iniciado em 9 de julho, mesmo dia em que Trump anunciou a tarifa sobre produtos brasileiros. A manifestação do ex-presidente americano foi publicada às 17h17 em sua rede Truth Social, e, minutos depois, às 17h36, o Mdic encaminhou aos técnicos do governo a minuta do decreto que regulamenta a nova lei.
Segundo o parecer da Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior, a retaliação pode afetar diretamente setores produtivos brasileiros, que podem enfrentar custos mais altos com importações. O documento reconhece que, embora a medida possa funcionar como resposta às ações de países estrangeiros, também há impacto negativo potencial para consumidores finais e empresas que dependem de insumos importados.
Por esse motivo, o Mdic defende que a negociação seja priorizada antes da adoção de qualquer sanção. O decreto prevê um processo que inclui consulta pública e diálogo bilateral, sendo as contramedidas uma última alternativa, caso as negociações fracassem.
Nos últimos dias, o vice-presidente Geraldo Alckmin tem reforçado a disposição do governo Lula em negociar com os Estados Unidos antes da entrada em vigor da tarifa, prevista para agosto. “O segundo maior superávit dos EUA é com o Brasil. Se o comércio cai, eles perdem uma posição estratégica. Por isso, o esforço para resolver”, afirmou na quarta-feira (16).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também tem endurecido o discurso. Em evento da UNE (União Nacional dos Estudantes), em Goiânia, nesta quinta-feira (17), ameaçou tributar empresas digitais americanas. Em pronunciamento em rede nacional, voltou a defender o uso de todos os instrumentos legais para proteger a economia brasileira, incluindo recursos à Organização Mundial do Comércio (OMC) e a aplicação da Lei da Reciprocidade.
Em entrevista à CNN Internacional, Lula disse preferir a via diplomática. “Seria muito melhor estabelecer uma negociação e chegar a um acordo possível. Nós temos boas relações com os Estados Unidos há 200 anos”, afirmou. Ele também criticou Trump, dizendo que o ex-presidente “foi eleito para governar os Estados Unidos, e não para ser o imperador do mundo”.