EconomiaNotícias

Pix já é monitorado pelos Estados Unidos desde 2022

De acordo com o Banco Central, só no ano passado, o Pix movimentou cerca de R$ 26,4 trilhões

O sistema de pagamentos instantâneos Pix, desenvolvido pelo Banco Central do Brasil, entrou oficialmente no radar das autoridades dos Estados Unidos. O Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR) instaurou uma investigação para apurar possíveis práticas comerciais consideradas desleais por parte do governo brasileiro, incluindo o estímulo à adoção do Pix — que, segundo analistas, tem pressionado empresas americanas do setor financeiro e de tecnologia.

A preocupação dos EUA com o Pix não é recente. Desde 2022, o USTR já mencionava, em documentos oficiais, que monitorava o avanço do sistema no Brasil, destacando o papel duplo do Banco Central como regulador e operador da plataforma. O órgão afirma que acompanha o mercado de pagamentos eletrônico de varejo para garantir “condições equitativas” a todos os participantes.

A inclusão do Pix como possível barreira ao comércio exterior foi feita na edição de 2022 do relatório anual do USTR, que lista obstáculos enfrentados por empresas americanas em 63 países, incluindo o Brasil. A menção ao sistema brasileiro naquele ano foi a primeira — e única de forma nominal — embora relatórios posteriores tenham voltado a citar o ambiente financeiro do país.

Nesta quinta-feira (16), o USTR confirmou publicamente a abertura de uma investigação a pedido do presidente Donald Trump. O objetivo, segundo o principal dirigente do órgão, Jamieson Greer, é avaliar os “ataques do Brasil às empresas de mídia social dos EUA” e outras práticas que estariam prejudicando trabalhadores, agricultores e a inovação tecnológica americana.

Segundo analistas ouvidos pela Agência Brasil, a ofensiva dos EUA pode ser explicada pela forte concorrência que o Pix representa para operadoras de cartão de crédito tradicionais, além de plataformas como o WhatsApp Pay, da Meta. Gratuito e amplamente aceito, o Pix já movimentou cerca de R$ 26,4 trilhões apenas no ano passado, segundo o Banco Central.

Para a economista Cristina Helena Mello, da PUC-SP, o Pix promoveu a inclusão financeira e tornou-se uma alternativa eficiente e segura dentro do sistema bancário brasileiro. “O Pix oferece uma série de vantagens, é ágil e ampliou o acesso bancário. Faz parte da concorrência oferecer produtos melhores”, afirma.

Parte da insatisfação americana, segundo especialistas, pode ter relação com o veto imposto pelo Banco Central e pelo Cade, em 2020, ao lançamento do WhatsApp Pay, que havia sido anunciado pela Meta no Brasil. A funcionalidade, que permitiria o envio e recebimento de dinheiro via aplicativo, foi bloqueada sob o argumento de que precisava ser avaliada para evitar riscos à concorrência e garantir o funcionamento do Sistema de Pagamentos Brasileiro.

Para Cristina Helena, a decisão do BC foi acertada. “O WhatsApp estava operando à margem do sistema financeiro regulado. Era preciso garantir que as regras fossem seguidas, inclusive no rastreamento de transações monetárias”, explica.

O caso adiciona um novo elemento às tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos, que já envolvem a ameaça de tarifas de 50% sobre exportações brasileiras e divergências políticas entre os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump.

(Com Agência Brasil)

Postagens relacionadas

1 of 472