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Daycoval projeta cortes mais agressivos na Selic a partir de 2026 com desaceleração da economia

Para o Daycoval, esse arrefecimento contribuirá para expectativas de inflação mais benignas

Após um primeiro semestre marcado por crescimento econômico robusto e inflação persistente, a expectativa para a segunda metade de 2025 é de mudança no ciclo econômico, com tendência de desaceleração que deve levar o Banco Central a reduzir a taxa Selic de forma mais intensa a partir de 2026. A avaliação é do economista-chefe do Banco Daycoval, Rafael Cardoso, em entrevista ao Valor durante o evento XP Expert.

Segundo Cardoso, o cenário-base do banco prevê dois cortes iniciais de 0,25 ponto percentual nas primeiras reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) no próximo ano, seguidos por reduções de 0,5 ponto nas reuniões seguintes, encerrando 2026 com a Selic em 11,25% ao ano. Atualmente, o mercado precifica cortes de cerca de 2 a 2,5 pontos percentuais no período, o que levaria a taxa para algo entre 12,5% e 13%, conforme a curva de juros futuros e o relatório Focus do Banco Central.

O economista explica que o BC está entrando em uma fase de inflexão, na qual os efeitos das medidas adotadas nos últimos anos começam a se consolidar e fatores externos, como o impacto do setor agropecuário, perdem força. Dados recentes de atividade e crédito já indicam desaceleração, o que tende a reduzir as pressões inflacionárias.

Para o Daycoval, esse arrefecimento contribuirá para expectativas de inflação mais benignas, próximas da meta de 3% no horizonte relevante do BC. “Quando o Banco Central inserir essas expectativas em seu modelo, junto à atividade mais fraca, terá espaço para cortar juros de forma mais agressiva”, afirma Cardoso.

Entre os fatores que podem alterar esse cenário, o economista cita as tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, anunciadas pelo presidente Donald Trump. No momento, Cardoso avalia que o impacto tende a ser limitado, pois a medida pode levar a uma sobreoferta interna e reduzir pressões de preços no Brasil. No entanto, ele alerta que uma eventual retaliação brasileira com tarifas equivalentes poderia gerar um choque de até 0,4 ponto percentual no IPCA.

No campo fiscal, Cardoso avalia que o governo tem pouco espaço para adotar estímulos diretos, mas aponta risco de medidas parafiscais. O cenário projetado pelo banco considera que a atividade e o mercado de trabalho perderão fôlego gradualmente, permitindo que o ciclo de queda de juros contribua para a retomada econômica em 2026, ano eleitoral.

Ainda assim, o economista alerta que, se a inflação e a atividade mostrarem resiliência maior que o previsto, o BC pode postergar os cortes de juros. Nesse caso, a autoridade monetária manteria uma postura mais restritiva para reancorar expectativas e preservar a credibilidade da política monetária.

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