A ameaça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros deve provocar efeitos limitados no perfil de crédito das companhias nacionais com exposição ao mercado americano, segundo análise da Fitch Ratings. Para a agência de classificação de risco, o principal fator de pressão segue sendo o nível elevado da taxa de juros no Brasil.
Fernanda Rezende, diretora sênior de Corporate para a América Latina na Fitch, afirma que a preocupação central do momento é a manutenção dos juros em patamar elevado por mais tempo, o que afeta diretamente a geração de caixa das empresas. A Selic foi elevada em 4,5 pontos percentuais neste ano, atingindo 15% em junho, após medidas do Banco Central para conter a inflação. A expectativa da Fitch é de que os cortes na taxa comecem no início de 2026, chegando a 12% até o fim do próximo ano.
O levantamento avaliou indicadores de 14 companhias brasileiras com exposição ao mercado norte-americano variando entre 3% e 50% de suas receitas. No grupo com menor exposição, entre 3% e 10%, estão Minerva, Raízen, Petrobras, Dexco, Tupy, Vale, CSN, Usiminas e Portobello. Na faixa intermediária, entre 11% e 30%, aparecem Eldorado Celulose, Suzano e Prio. A Embraer lidera a lista, com participação entre 31% e 50%.
Segundo a Fitch, o impacto das tarifas será determinado pelo grau de exposição das dívidas dessas companhias ao mercado doméstico. No setor de celulose, a Suzano tem a maior parte de sua dívida em dólar, o que a protege da Selic. Já a Eldorado tem endividamento majoritariamente em reais, ficando mais vulnerável à variação dos juros.
A agência prevê que as métricas de crédito dessas empresas permaneçam estáveis, sustentadas por políticas mais conservadoras de alocação de capital. Muitas delas reduziram ou postergaram investimentos e diminuíram o pagamento de dividendos para equilibrar o consumo de caixa diante do custo de capital elevado. A relação entre dívida líquida e Ebitda deve encerrar 2025 em 2,5 vezes, patamar próximo ao registrado no ano passado.
A queda nos preços de commodities como celulose, minério de ferro e petróleo também pressiona a geração de caixa e pode atrasar a redução da alavancagem, caso o cenário persista. Apesar disso, a liquidez das companhias continua sólida.
O relatório alerta, contudo, para o risco adicional de volatilidade em 2026, ano de eleições no Brasil, o que pode levar empresas a antecipar o refinanciamento de dívidas. Cerca de 23% das obrigações domésticas vencem entre 2025 e 2026, enquanto, no mercado externo, o volume de curto prazo soma aproximadamente US$ 3 bilhões até o fim de 2026.