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Exceções aliviam tarifaço de Trump e reduzem impacto em 41% ao Brasil

Decreto da Casa Branca que oficializa alíquota de 50% sobre o Brasil traz 694 exceções

A exclusão de 694 produtos da tarifa extra de 50% anunciada pelos Estados Unidos deve reduzir em cerca de 41% o impacto da medida sobre as exportações brasileiras, segundo estimativa da Leme Consultores. O levantamento cruzou a lista de exceções divulgada pela Casa Branca com os principais itens enviados pelo Brasil ao mercado americano em 2025. Ao aplicar o mesmo cálculo sobre os dados de 2024, o alívio seria ainda maior, alcançando 44,55%.

Embora o governo Lula ainda não tenha apresentado projeções oficiais, os números indicam que a decisão de Washington suaviza parte dos efeitos negativos do tarifaço, mesmo que setores como carnes e café continuem entre os mais prejudicados. Produtos relevantes da pauta brasileira — como suco de laranja, celulose e aeronaves — foram poupados da nova tributação e seguirão entrando no mercado americano sem a sobretaxa.

Segundo José Ronaldo Jr., economista-chefe da Leme Consultores, a lista de exceções representa um respiro importante para a balança comercial brasileira: “Mais de 40% do que o Brasil exporta para os Estados Unidos ficará fora da nova tarifa, o que ameniza consideravelmente o impacto previsto inicialmente”.

Para Enrico Gazola, economista pelo Insper e sócio-fundador da Nero Consultoria, a medida representa uma escalada sem base econômica. “Mais do que protecionismo, trata-se de retaliação política travestida de defesa institucional. O impacto nas exportações será severo, com perda de previsibilidade e reputação para o Brasil”, avalia. O especialista critica a resposta do governo brasileiro, que, segundo ele, foi lenta e ineficaz diante dos sinais de endurecimento retórico vindos de Washington. “Faltou ofensiva diplomática e articulação com o setor privado americano para mostrar o custo das tarifas. Esperar o decreto ser assinado reduziu nossa capacidade de reação”, completa.

Gazola ressalta ainda que, embora a medida seja prejudicial à economia no médio prazo, pode gerar dividendos políticos para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao personificar Trump como inimigo externo, o governo pode criar um discurso de defesa da soberania e unir setores afetados pela medida. “É um desastre econômico que pode virar trunfo eleitoral se bem narrado”, diz o economista.

“O papel estava sob pressão pela possibilidade de tarifação, mas a exclusão dos aviões do tarifaço tirou o peso do mercado”, explica Cleber Rentróia, head de renda variável da Blue3 Investimentos.

Entre janeiro e junho de 2025, o Brasil exportou US$ 20 bilhões para os EUA. Desse total, US$ 8,2 bilhões correspondem a produtos que escaparam da taxação, enquanto US$ 11,81 bilhões serão afetados. Em 2024, as exportações brasileiras para o mercado americano somaram US$ 40,36 bilhões; com base nos mesmos critérios, cerca de US$ 17,98 bilhões ficariam isentos, e US$ 22,38 bilhões estariam sujeitos à tarifa.

A sobretaxa imposta pelo governo Trump foi justificada por motivos de “segurança nacional” e deve intensificar as negociações entre os dois países. O Planalto prepara um diagnóstico detalhado para avaliar medidas de resposta e o impacto setorial da decisão.

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