Com a entrada em vigor, nesta quarta-feira (6), da sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos a mais da metade das exportações brasileiras, o governo brasileiro enxerga nos minerais críticos uma possível carta na manga para negociar exceções e, ao mesmo tempo, atrair investimentos estratégicos. Esses insumos — como nióbio, grafite e terras raras — são cada vez mais valorizados no cenário global por sua importância para setores de alta tecnologia, transição energética, defesa e mobilidade elétrica.
No fim de julho, o encarregado de negócios dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, já havia sinalizado o interesse norte-americano em ampliar o acesso a esses minerais, hoje dominados pela China. O país asiático concentra cerca de 70% do refino mundial de 19 dos 20 minerais considerados críticos, o que levou Washington a priorizar a diversificação de fornecedores para reduzir vulnerabilidades nas cadeias de produção. Nesse contexto, o Brasil aparece como peça-chave: detém a maior reserva de nióbio do planeta, a segunda maior de grafite e terras raras e a terceira maior de níquel.
O potencial brasileiro não se limita às reservas. A perspectiva é de que o tema seja colocado no centro da agenda bilateral, tanto para ampliar a lista de exceções ao tarifaço quanto para estabelecer uma estratégia de médio e longo prazo. Isso inclui negociações por contrapartidas comerciais, acesso a tecnologias e investimentos no beneficiamento local, uma etapa ainda dependente de processamento externo. Entretanto, parte relevante do portfólio mineral do país foi atingida pela sobretaxa. Dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) apontam que 24,4% das vendas brasileiras de minérios aos EUA serão impactadas, sobretudo alumínio, cobre, manganês e caulim.
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou que a “pauta de minerais críticos é extensa” e deve ganhar protagonismo nas conversas com Washington. Em paralelo, o Ministério de Minas e Energia trabalha para lançar até novembro a Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos, voltada para agregar valor à produção nacional e fortalecer a indústria brasileira.
O setor privado também busca se posicionar para aproveitar a janela de oportunidades. Um plano conjunto elaborado pela Câmara Americana de Comércio para o Brasil (AmCham Brasil) e pela U.S. Chamber of Commerce propõe cinco frentes para aprofundar a parceria: criação de um plano bilateral com metas claras; ampliação do mapeamento geológico com cooperação técnica; financiamento conjunto por meio do BNDES, DFC e Exim Bank; parcerias em inovação e processamento industrial; e adoção de padrões ambientais internacionais para sustentabilidade e rastreabilidade.
Os números reforçam o peso do setor na pauta econômica. Somente no primeiro semestre de 2025, o faturamento com minerais críticos somou R$ 21,6 bilhões, alta de 41,6% em relação ao mesmo período de 2024, representando cerca de 4% das exportações brasileiras de minérios para os EUA. A previsão para o período de 2025 a 2029 indica investimentos de US$ 68,4 bilhões no setor mineral, dos quais US$ 18,45 bilhões destinados especificamente aos minerais críticos. Minas Gerais, Pará e Bahia concentram quase 80% desse faturamento, consolidando-se como polos estratégicos da mineração nacional.