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Juros altos freiam IPOs e mantêm mercado de capitais focado em renda fixa e M&As pontuais

Bancos veem raras ofertas de ações, algumas fusões e aquisições e renda fixa ainda forte

O mercado de capitais brasileiro entra no segundo semestre de 2025 com um cenário de poucas ofertas de ações, fusões e aquisições (M&As) concentradas em operações pontuais e renda fixa ainda aquecida, embora com ritmo menor que o registrado no histórico 2024. Com a taxa Selic mantida em 15% ao ano, o Brasil completa este mês quatro anos sem novas aberturas de capital (IPOs), enquanto o custo de financiamento dificulta a realização de grandes operações de M&A.

O impacto desse ambiente foi sentido de forma distinta nos resultados dos maiores bancos privados e do BR Partners no segundo trimestre. O Bradesco registrou alta de 34% nas receitas de assessoria, impulsionada por emissões de dívida, enquanto no Santander houve queda de 20% e no Itaú, recuo de 39% na mesma base de comparação. A diferença metodológica ajuda a explicar parte da variação: o Bradesco não contabiliza corretagem nesses números, ao contrário de Santander e Itaú.

No Santander, o presidente Mario Leão disse ver uma possível retomada no segundo semestre, mas ainda restrita a renda fixa e a alguns M&As isolados. “O mercado de ofertas de ações está inexistente”, afirmou, apontando que as fusões em andamento não representam um movimento generalizado.

O presidente do Bradesco, Marcelo Noronha, destacou a demanda robusta por renda fixa, apesar da compressão das margens. Segundo ele, o Bradesco BBI assessorou e estruturou 100 operações de dívida no trimestre, somando R$ 148 bilhões, e participou de oito operações de fusões e aquisições, no valor de R$ 42 bilhões. “O mercado de capitais mostrou tração muito forte em renda fixa, M&As e operações estruturadas”, afirmou.

Já o presidente do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho, adotou tom mais cauteloso. Ele estima que as emissões de dívida no segundo semestre fiquem de 20% a 30% abaixo do volume registrado no mesmo período de 2024 e que as ofertas de ações sejam “baixíssimas ou nulas”. Para Maluhy, a janela para IPOs segue fechada, e mesmo os follow-ons — ofertas de empresas já listadas — devem se limitar a casos pontuais. No primeiro semestre, o Itaú BBA participou de 20 operações de M&A (R$ 31,5 bilhões), quatro ofertas de ações (R$ 1,9 bilhão) e originou R$ 48,3 bilhões em renda fixa.

No BR Partners, que se prepara para listar ações na Nasdaq no próximo mês, o segundo trimestre foi o mais fraco para M&As em cinco anos. O diretor de Relações com Investidores e Assuntos Institucionais, Vinícius Carmona, afirmou que o banco manteve resiliência diante do ambiente adverso, mas as receitas caíram: recuo de 1,9% no total e de 17,3% nas operações de banco de investimento. A expectativa é de leve recuperação na atividade de fusões no segundo semestre, apoiada por maior entrada de capital estrangeiro, mas ainda abaixo dos níveis históricos devido ao cenário internacional incerto, risco eleitoral e juros elevados.

Apesar do ritmo menor, a renda fixa continua sendo o motor do mercado de capitais, com volume de emissões ainda próximo dos maiores patamares já registrados, sustentando boa parte das receitas das instituições financeiras em 2025.

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