O Brasil deve alcançar em 2025 um marco histórico no mercado internacional de dívida, com a emissão de até US$ 30 bilhões em títulos no exterior, segundo projeção do Morgan Stanley. Apesar do impacto das tarifas impostas pelos Estados Unidos, o banco avalia que o apetite dos investidores permanece firme, sustentando uma demanda elevada por papéis brasileiros. Até agosto, governo, empresas e bancos nacionais já captaram US$ 22 bilhões fora do país, o que representa um crescimento de 18% em relação ao mesmo período do ano passado. Grande parte desse volume foi destinada à rolagem de dívidas e à gestão de passivos, enquanto o restante correspondeu a dinheiro novo entrando na economia.
Para Gustavo Siqueira, corresponsável por mercados de capitais de renda fixa do Morgan Stanley na América Latina, a conjuntura política e geopolítica não afetou a receptividade do mercado. Ele cita como exemplo a Embraer, que em fevereiro levantou US$ 650 milhões em títulos globais com vencimento em 2035, operação coordenada pelo próprio banco. Os recursos foram direcionados para recomprar papéis que venceriam entre 2027 e 2028. Outro destaque foi a Sabesp, que retornou ao mercado internacional após 15 anos, captando US$ 500 milhões em julho para ampliar sistemas de água e esgoto, reforçar redes para períodos de seca e financiar obras ambientais.
Apesar do aumento da captação, Siqueira pondera que os novos recursos ainda se concentram em grandes companhias com projetos estruturantes, e não em movimentos de expansão generalizada do setor privado. Esse contraste fica evidente quando se observa o mercado doméstico, onde as emissões de ações somaram apenas R$ 18,4 bilhões até agora, queda de 28% em relação a 2024, enquanto a emissão de títulos locais recuou 18%, para R$ 233,7 bilhões.
O banco também vê espaço para operações de fusões e aquisições, com estrangeiros aproveitando a volatilidade para adquirir ativos considerados estratégicos, especialmente em setores como agronegócio, recursos naturais e saneamento. Fabio Medeiros, chefe do banco de investimento do Morgan Stanley no Brasil, afirma que esses chamados “ativos troféu” dificilmente estariam disponíveis em condições normais de mercado. Nesse cenário, o banco participou de transações de grande visibilidade, como a venda da Linx, controlada pela StoneCo, para a Totvs, em um negócio avaliado em R$ 3 bilhões.
Outro fator que reforça a visão positiva do Morgan Stanley é o crescimento do fluxo estrangeiro para ações brasileiras. Apenas em maio e junho, os ETFs locais receberam mais de US$ 1 bilhão líquidos, o maior volume desde 2019, impulsionando empresas a discutir novas ofertas públicas iniciais. Segundo Alessandro Zema, country head do banco no Brasil, esse movimento demonstra que, apesar das incertezas externas, a percepção internacional em relação ao país segue favorável.
Ainda assim, a instituição adota uma postura de cautela. Marcello Lo Re, responsável pelos mercados de capitais de ações do Morgan Stanley na América Latina, ressalta que os desdobramentos da economia americana a partir de setembro serão decisivos para calibrar expectativas. Ele afirma, porém, estar “construtivo” quanto às perspectivas até o fim de 2025 e o início de 2026.
Com essa combinação de fatores, o banco mantém a projeção de que o Brasil encerrará o ano com um recorde na captação de títulos externos, reforçando a resiliência do mercado de capitais nacional e a confiança dos investidores internacionais, mesmo em meio às tensões comerciais e políticas globais.