Por Renata Nilsson, CEO da PX Ativos Judiciais
Quem acompanha o mercado financeiro já percebeu: os ativos judiciais são a nova tendência. O que antes era visto apenas como uma alternativa de nicho, agora se mostra um terreno fértil para inovação e novos negócios. Entre as apostas mais promissoras desse movimento se encontra a criação de títulos lastreados em créditos judiciais: uma estratégia que une segurança jurídica, liquidez e inteligência financeira, abrindo novas fronteiras para investidores institucionais.
Na prática, a lógica é bastante semelhante à dos famosos Asset-Backed Securities (ABS): transformar recebíveis em títulos financeiros. A diferença está no lastro, que agora são os créditos judiciais, como precatórios, ações indenizatórias e outros direitos líquidos e certos. A proposta é simples, mas poderosa: converter valores que levariam anos para serem pagos em instrumentos financeiros líquidos, escaláveis e rentáveis.
Para fundos de pensão, hedge funds e gestoras que vivem à procura de novas fontes de retorno, esses títulos podem ser uma verdadeira oportunidade. Eles oferecem uma combinação valiosa: previsibilidade de fluxo de caixa (quando bem estruturados), baixa correlação com a inconsistência dos mercados tradicionais e prêmios de risco atrativos. Além disso, o risco associado é predominantemente processual – relacionado ao tempo de tramitação e à execução dos créditos — e não ao cenário macroeconômico global, o que pode ser uma vantagem decisiva em contextos de alta volatilidade.
Entretanto, como toda inovação financeira, essa também apresenta desafios. Construir títulos realmente robustos e atrativos não se resume a empacotar créditos. É essencial realizar uma análise profunda dos processos com modelagem jurídica sólida, gestão de risco especializada e estruturas de governança capazes de resistir a instabilidades. Sem essa base, um ativo promissor pode facilmente se tornar um passivo oneroso.
Outro ponto crucial é a transparência. É importante ter em mente que investidores institucionais não se expõem a ativos sem visibilidade: eles exigem processos rigorosos, dados auditáveis e segurança jurídica em todas as etapas – da seleção dos créditos até a estruturação do veículo de investimento. Níveis elevados de diligência, compliance rigoroso e uma gestão integrada — financeira e jurídica — são condições inegociáveis.
Apesar dos desafios, o potencial é imenso. Nos Estados Unidos, a securitização de ativos alternativos já movimenta bilhões de dólares, e os créditos judiciais estão ganhando cada vez mais espaço. No Brasil, esse mercado ainda se encontra em fase inicial, mas conta com um ambiente altamente favorável: excesso de processos judiciais, demanda por liquidez, evolução regulatória e um ecossistema financeiro cada vez mais receptivo a novas alternativas de investimento.
Neste contexto, quem domina a arte de analisar, estruturar e gerir ativos judiciais terá uma vantagem competitiva significativa. Não basta entender de crédito: é preciso transformar litígios judiciais em estruturas financeiras sólidas, construindo verdadeiras pontes entre o mundo jurídico e o mercado de capitais, com segurança, eficiência e retorno.
O futuro dos investimentos alternativos já começou. A criação de títulos lastreados em ativos judiciais não é apenas uma nova forma de gerar valor com capital, mas uma oportunidade concreta de construir um mercado mais inteligente, sofisticado e preparado. E para quem souber fazer isso com excelência, o céu será o limite.
*Advogada e CEO da PX Ativos Judiciais, tem mais de 17 anos de experiência em litígios, M&A, contingências judiciais e créditos legais. Especialista no mercado brasileiro de créditos judiciais, Renata liderou o primeiro acordo de dívida utilizando precatórios como garantia, estabelecendo um marco para novas possibilidades de alavancagem de ativos judiciais.
É bacharel em Direito, com especialização em Direito Empresarial, e membro ativo do Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP). Reconhecida por sua visão estratégica e inovação, Renata desempenha um papel central em todas as operações do fundo, desde a identificação de oportunidades até a liquidação de créditos, promovendo a excelência e o crescimento do setor.