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Setores de madeira, calçados e armas entram em férias coletivas e pedem apoio do governo contra tarifaço

Indústrias de madeira, calçados e armas decretam férias coletivas após tarifaço dos EUA

O tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos contra produtos brasileiros já provoca efeitos diretos no mercado de trabalho. Indústrias madeireiras, calçadistas e de armamentos adotaram férias coletivas como estratégia inicial para conter custos diante da queda brusca nas exportações. A medida, vista como paliativa, busca ganhar tempo antes de decisões mais drásticas, como demissões em massa, caso não haja reversão das sobretaxas impostas pelo governo Donald Trump ou abertura de novos mercados.

No setor de madeira, a situação é crítica. A Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente) relata que contratos de venda para os EUA foram congelados ou rescindidos, deixando fábricas com estoques encalhados. Empresas já não têm espaço para armazenar mercadorias destinadas ao mercado americano. A Millpar, segunda maior do setor no Brasil, decretou férias coletivas em sua unidade de Quedas do Iguaçu (PR) e, diante da crise, anunciou nesta semana o fechamento da planta, transferindo operações para Guarapuava (PR). “Estamos tomando decisões extremamente difíceis, mas necessárias para preservar parte dos postos de trabalho”, afirmou o presidente Ettore Giacomet Basile.

A Abimci calcula que as empresas ainda têm fôlego de uma a duas semanas antes de medidas mais duras. “As demissões ainda são pontuais, mas sem uma solução imediata, o risco aumenta”, alerta Paulo Pupo, superintendente da entidade. O cenário também alcança outros segmentos. A indústria calçadista decretou férias coletivas, enquanto a Polimetal, fornecedora da Taurus, colocou 33 de seus 50 funcionários de São Leopoldo (RS) em férias, como parte da estratégia da companhia de transferir parte da produção para os EUA e reduzir impactos da taxação.

Embora as férias coletivas reduzam custos imediatos e permitam reorganização, os setores já discutem alternativas mais drásticas. Demissões, uso do banco de horas, antecipação de feriados, acordos diretos com sindicatos e até programas de demissão voluntária (PDVs) estão no radar. Empresários defendem medidas semelhantes às adotadas na pandemia de 2020, como suspensão temporária de contratos e auxílio financeiro custeado pela União.

O governo Lula anunciou na semana passada um plano de contingência que libera R$ 30 bilhões em crédito e prevê benefícios tributários em troca do compromisso das empresas de não demitir. Mas, para entidades como a Abicalçados, ainda faltam detalhes sobre a execução. Em parecer enviado ao vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, a associação sugeriu mecanismos de redução proporcional de jornada e salário, além da suspensão de contratos por até 90 dias. “Estamos trabalhando por medidas de proteção que mitiguem os efeitos do tarifaço até que haja uma solução definitiva”, destacou Haroldo Ferreira, presidente-executivo da entidade.

A pressão sobre o governo aumenta à medida que o risco de desemprego em massa se torna mais concreto. Para especialistas, a rapidez na adoção de medidas será determinante para evitar que a crise comercial se converta em crise social.

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