O PP e outros partidos do centrão articulam uma ofensiva na Câmara dos Deputados para votar um projeto de lei que concede ao Congresso poder de demitir diretores e até o presidente do Banco Central. A movimentação ocorre em meio à análise final da compra do Banco Master pelo BRB (Banco de Brasília), operação que divide opiniões no mercado e deve ser decidida ainda nesta semana.
A proposta reacendeu os holofotes sobre Renato Gomes, diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução do BC. Ele é responsável por conduzir ao colegiado a recomendação sobre o negócio e estaria entre os mais resistentes à aprovação da transação. O Banco Master pertence ao banqueiro Daniel Vorcaro, empresário com forte relação política junto ao centrão, especialmente com o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI).
Para acelerar o debate, o líder do PP, deputado Doutor Luizinho (RJ), e o vice-presidente da legenda, Claudio Cajado (BA), recolheram assinaturas para colocar em regime de urgência uma proposta de 2021, de autoria do ex-deputado Camilo Capiberibe (PSB-AP), que estava parada desde as discussões sobre a autonomia do BC. O texto prevê que diretores e presidentes da autoridade monetária possam ser exonerados mediante aprovação da maioria absoluta da Câmara, caso a condução das atividades seja considerada “incompatível com os interesses nacionais” — expressão vaga e sem critérios objetivos no projeto.
Caso a Câmara aprove, o afastamento ainda precisaria ser confirmado pelo Senado, também por maioria absoluta. A urgência conta com apoio de partidos como MDB, União Brasil, PSB, PL e Republicanos, que juntos somam cerca de 300 deputados — número superior aos 257 necessários para aprovar a tramitação acelerada.
Apesar da pressão política, Luizinho afirmou não ver motivo atual para afastar membros do BC, mas defendeu que o Congresso tenha esse poder. “Se o Congresso pode afastar o presidente da República, por que não poderia afastar um diretor do Banco Central?”, disse o líder do PP.