O mercado financeiro foi surpreendido nesta sexta-feira (5) com a divulgação do Payroll, relatório oficial de emprego dos Estados Unidos. O indicador mostrou a criação de apenas 22 mil vagas em agosto, número muito abaixo da projeção de 75 mil postos de trabalho. O resultado reforça a percepção de que o mercado de trabalho americano está perdendo força em um ritmo mais acelerado do que o previsto, o que aumenta o temor de uma desaceleração econômica mais intensa nos próximos meses.
Para a analista de Macroeconomia da InvestSmart XP, Sara Paixão, os números trazem uma mudança importante no cenário de política monetária norte-americana. Segundo ela, a principal resistência para cortes de juros vinha justamente da resiliência do mercado de trabalho, preocupação destacada pelo presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, durante o Simpósio de Jackson Hole. “Com essa surpresa negativa, o Fed ganha mais espaço para reduzir os juros ainda neste ano. A dúvida agora não é mais se haverá cortes, mas qual será a intensidade deles”, afirma.
A divulgação do dado consolidou a expectativa de que o Fed promova três cortes consecutivos da taxa de juros em 2025, nas reuniões de setembro, outubro e dezembro. Para os investidores, a questão central passou a ser o ritmo desse afrouxamento monetário, já que a autoridade monetária precisa equilibrar a necessidade de estimular a economia sem perder credibilidade no combate à inflação.
Como a taxa de juros dos Estados Unidos funciona como um balizador global para os preços dos ativos financeiros, a decisão do Fed tem efeitos diretos sobre outras economias. Na avaliação de Sara Paixão, o movimento deve ser positivo para países emergentes. “Um cenário de juros mais baixos nos EUA tende a aliviar pressões sobre o dólar, melhorar as condições de liquidez internacional e favorecer ativos de risco em mercados como o Brasil”, destaca a economista.
A reação no mercado doméstico já é visível. Após a divulgação do Payroll, a curva de juros brasileira recuou e o dólar passou a operar em queda, refletindo a melhora na percepção de risco. Para investidores locais, o movimento abre uma janela de oportunidades tanto em renda variável quanto em renda fixa, diante da expectativa de condições financeiras globais mais favoráveis.