A decisão do Banco Central (BC) de rejeitar a aquisição de parte do Banco Master pelo BRB (Banco de Brasília) ampliou a incerteza sobre o futuro da instituição controlada por Daniel Vorcaro e acendeu o sinal de alerta para os investidores dos Certificados de Depósito Bancário (CDBs) emitidos pelo banco.
A maior parte do funding do Master — cerca de 62% — está concentrada nesses papéis. Isso significa que, para honrar os vencimentos, o banco precisa liquidar ativos, muitos deles considerados de difícil negociação. Desde março, quando anunciou a operação com o BRB, a instituição buscava alternativas para equilibrar o caixa. Já havia recorrido a uma linha emergencial de R$ 4 bilhões do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) e, segundo apuração da Folha de S.Paulo, tentava aprovar outro empréstimo de até R$ 15 bilhões.
Com a negativa do BC, analistas veem como cenário provável uma intervenção do regulador, que afastaria a atual gestão e nomearia um interventor. Nesse caso, os CDBs teriam sua liquidez suspensa temporariamente, enquanto seria feita a verificação da real situação patrimonial do banco. Se confirmada a inviabilidade de continuidade, o passo seguinte seria a liquidação extrajudicial da instituição.
Para os investidores, isso significa acionar a proteção do FGC, que cobre até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ, por instituição financeira. Valores acima desse limite entram na fila de credores comuns (quirografários), atrás de créditos trabalhistas e fiscais, mas antes dos acionistas. “Embora uma intervenção seja medida extrema, ela pode se tornar necessária. O objetivo central seria proteger depositantes e mitigar riscos sistêmicos”, afirma Eduardo Brasil, sócio do Fonseca Brasil Advogados.
Na prática, os aplicadores que possuem valores acima do limite do FGC podem enfrentar perdas. “Esses investidores entram na fila da liquidação e dependem da venda dos ativos para eventual recuperação parcial dos valores”, explica Daniela Poli Vlavianos, advogada do escritório Arman Advocacia.
Enquanto o desfecho não é definido, parte dos aplicadores tenta se desfazer dos títulos no mercado secundário. Papéis com vencimento próximo são negociados com forte deságio, oferecendo remuneração bem acima da média de mercado, como IPCA + 40%. Esse prêmio reflete a percepção de risco e a exigência de retorno elevado para quem topa assumir a exposição. “Para quem tem até R$ 250 mil, não faz sentido vender, dado o desconto elevado. Mas quem tem acima desse valor deveria reduzir posição”, avalia Valter Police, planejador financeiro CFP.
O Banco Central não detalhou os fundamentos da recusa, mas fontes apontam que a fragilidade das carteiras de ativos e os riscos de sucessão foram determinantes. O BRB também informou que pretende recorrer da decisão. Já o Master, procurado, não se manifestou até o momento.
O caso reforça a importância da diversificação e do acompanhamento atento ao risco de crédito dos emissores. Para o mercado, o episódio é um teste não apenas para a solidez do sistema de garantias, mas também para a atuação do regulador diante de uma crise que pode se transformar no maior resgate da história do FGC.