Os estrategistas Ivan Riveros e Laura Bobbio, do Citi, afirmam que os mercados domésticos ainda não precificam o risco político no câmbio, que continua em níveis bastante confortáveis e próximos das mínimas do ano. Nos juros, no entanto, sinais de pressão já podem ser observados. Para os analistas, os investidores têm operado com base em fatores macroeconômicos combinados com tensões entre os Estados Unidos e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, mas sem incorporar de forma relevante as incertezas políticas internas. Esse comportamento se reflete no posicionamento otimista dos fundos locais, que foi reforçado pelo bom desempenho recente dos ativos brasileiros, mesmo em um ambiente em que Lula cresceu nas pesquisas eleitorais.
O Citi lembra que existe um padrão histórico no comportamento dos mercados em anos eleitorais. No caso do real, a moeda tende a se valorizar até o fim de março, quando atinge o pico, e a partir daí começa a perder força, sentindo maior pressão à medida que a eleição se aproxima. Esse movimento deve se repetir em 2026, mantendo condições favoráveis ao câmbio no primeiro trimestre. Já o mercado de juros futuros apresenta uma dinâmica distinta: as taxas atingem o piso cerca de um ano antes das eleições e, em seguida, passam a oscilar dentro de uma faixa relativamente ampla, entre 50 e 75 pontos-base, sem tendência definida, refletindo maior volatilidade e incerteza.
Na avaliação dos estrategistas, isso significa que o câmbio deve permanecer protegido no curto prazo, mas os juros já começam a reagir ao cenário político. A aproximação do calendário eleitoral de 2026 aumenta o risco de que uma política fiscal mais expansionista sustente a atividade no curto prazo, mas também dificulte o trabalho do Banco Central em manter a inflação dentro da meta de 3%. Esse cenário pode ampliar a volatilidade nos juros, antecipando tensões que só deverão chegar ao câmbio mais à frente.
Para o Citi, a diferença de comportamento entre câmbio e juros não deve durar indefinidamente. Até o primeiro trimestre de 2026, o real deve seguir em condições favoráveis, mas os DIs tendem a ser os primeiros a refletir o risco político e a pressão fiscal, antecipando o ambiente de maior incerteza que virá com a disputa eleitoral.