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Juros altos derrubam previsões de crescimento da construção civil e travam financiamentos

Juros altos, incertezas econômicas e queda no crédito imobiliário travam consumo e ritmo de obras

O setor de construção civil entrou em 2025 embalado por boas perspectivas, mas a manutenção da taxa Selic em 15% ao ano por um período prolongado mudou o cenário. A Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) revisou sua previsão de crescimento nas vendas do setor de 2,8% para 1,8%. No mesmo sentido, o Sinduscon-SP e a Fundação Getulio Vargas (FGV) reduziram a estimativa de alta do PIB da construção de 3% para 2,2%. O recuo traduz o peso dos juros elevados sobre o consumo, o crédito e os investimentos do setor.

Segundo o presidente da Abramat, Paulo Engler, a piora no desempenho foi percebida em todos os segmentos, mas com destaque negativo para o varejo de materiais, que perdeu fôlego diante da retração das famílias. “A manutenção da Selic em 15%, sem perspectiva de queda neste ano, gera incertezas se as famílias vão investir na reforma da casa”, afirmou. Apesar do emprego e da renda em alta, a decisão de reformar ou construir foi adiada em muitos lares, enfraquecendo a demanda.

Ana Maria Castelo, coordenadora de estudos da construção na FGV, reforça que o consumo de materiais começou o ano forte, mas sofreu uma inflexão nos últimos meses. Segundo ela, o setor imobiliário mostra sinais claros de cautela: a geração de empregos perdeu ritmo, mesmo com um volume elevado de projetos anunciados anteriormente. “O que está por trás disso pode ser a decisão do empresário em adiar o início das obras”, afirmou.

O crédito imobiliário também foi fortemente impactado. Dados da Abecip mostram que o financiamento com recursos da caderneta de poupança para a construção de imóveis caiu 54% no primeiro semestre de 2025 em relação ao mesmo período de 2024, somando apenas R$ 9,1 bilhões. O dado revela as dificuldades crescentes enfrentadas pelas empresas para viabilizar o financiamento bancário necessário às obras.

Pesquisa da consultoria Brain, citada pelo presidente Fábio Tadeu Araújo, confirma o ambiente adverso. Para 52% das empresas entrevistadas, tomar crédito neste ano está “mais difícil”, enquanto 34% afirmaram que a tarefa ficou “muito mais difícil”. “A taxa de juro está impactando muito o dia a dia das empresas”, disse Araújo.

A desaceleração da construção civil acompanha a perda de fôlego da economia brasileira como um todo. Depois de crescer 1,3% no primeiro trimestre, o PIB nacional avançou apenas 0,4% no segundo trimestre de 2025, segundo o IBGE. Já o PIB do setor de construção encolheu 0,2% no mesmo período, resultado que confirma o peso da política monetária sobre um dos segmentos mais sensíveis ao crédito.

O quadro deixa claro que, mesmo com emprego e renda em expansão, o juro elevado e as incertezas econômicas minam a disposição das famílias e das empresas em investir. A construção civil, que costuma funcionar como termômetro da economia, agora se vê obrigada a refazer suas contas e projetar um ano de crescimento mais modesto.

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