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Agronegócio registra alta de 32% nos pedidos de recuperação judicial

Recuperações judiciais no agronegócio crescem 31,7% no 2º trimestre de 2025, reflexo de margens comprimidas e endividamento elevado

O setor do agronegócio voltou a acender sinais de alerta com o aumento expressivo dos pedidos de recuperação judicial no segundo trimestre de 2025. Segundo levantamento da Serasa Experian divulgado nesta segunda-feira (29), foram registradas 565 solicitações no período, um salto de 31,7% em relação ao mesmo trimestre de 2024. O movimento é reflexo direto dos desequilíbrios financeiros que se arrastam desde a quebra de produção da safra 2023/2024, somados às margens cada vez mais apertadas enfrentadas pelos produtores.

O monitoramento inclui tanto pedidos de produtores pessoas físicas quanto de empresas agrícolas. Pela primeira vez desde o fim de 2023, o número de solicitações feitas por companhias superou o de produtores individuais. Foram 243 pedidos de empresas agrícolas, o dobro do registrado um ano antes, contra 220 pedidos de pessoas físicas, alta modesta de 2,8%. A Serasa destacou que normalmente empresas do setor têm maior porte e organização, o que torna a guinada ainda mais relevante.

A pressão também atingiu a cadeia de fornecimento do agronegócio. Revendedores de insumos e prestadores de serviços ligados ao setor somaram 102 pedidos de recuperação judicial no trimestre, alta de 8,5% em relação a 2024. O dado mostra como os efeitos da crise vão além do campo, comprometendo elos intermediários da produção e da logística.

O cenário chamou atenção do governo federal. Em entrevista concedida no sábado (27) ao podcast 3 Irmãos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que sua equipe acompanha de perto a evolução dos pedidos de recuperação judicial no país. Sem citar diretamente o agronegócio, o ministro mencionou que pode estar ocorrendo “abuso” do mecanismo por alguns setores. A preocupação é reforçada pelos balanços de grandes bancos públicos, como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia, que registraram aumento da inadimplência rural nos últimos trimestres.

A situação é paradoxal: ao mesmo tempo em que o agronegócio impulsionou o crescimento econômico com mais uma supersafra, a rentabilidade caiu de forma acentuada. A primeira estimativa da Conab para a safra 2025/2026 aponta alta de 1% na produção de grãos, com novo recorde histórico. Porém, a queda nas cotações internacionais, somada à alta nos custos de insumos e às taxas de juros elevadas — mesmo com subsídios —, tem comprimido ainda mais as margens.

Nas lavouras, a preocupação é crescente. “Estamos preocupados se vamos conseguir pagar as contas e se vai sobrar alguma coisa, se vamos ter rentabilidade”, afirma Marion Kompier, sócia do Grupo Kompier, responsável pela Fazenda Brasilanda, que cultiva 6,6 mil hectares de soja em Montividiu e Aporé, no sudoeste de Goiás. O depoimento resume o clima de apreensão que paira sobre os produtores neste início do plantio da soja, cultura que inaugura a temporada agrícola de 2026.

A combinação entre supersafra e rentabilidade em queda mostra que, apesar do peso do agronegócio no PIB brasileiro, o setor enfrenta um período delicado. Entre margens comprimidas, endividamento crescente e instabilidade financeira, o desafio agora é encontrar equilíbrio para atravessar mais um ciclo agrícola sem ampliar o rastro de recuperações judiciais e inadimplência que já começa a se espalhar pelo sistema financeiro.

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