Destaque
DestaqueEconomiaNotícias

Governo negocia empréstimo de R$ 20 bilhões para socorrer os Correios em meio a prejuízo recorde

Plano de recuperação prevê demissões voluntárias, revisão de passivos e novo perfil de gestão após troca de comando na empresa

O governo federal intensificou as negociações para viabilizar um empréstimo bilionário destinado a socorrer financeiramente os Correios e garantir a execução de um plano de reestruturação da estatal. A operação, em discussão com Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e instituições privadas, deve ter garantia do Tesouro Nacional e está condicionada à implementação de medidas de ajuste profundo na companhia.

A proposta em debate prevê a concessão de cerca de R$ 20 bilhões até 2026, sendo R$ 10 bilhões no próximo ano e mais R$ 10 bilhões no ano seguinte. Os recursos serão utilizados tanto para reforçar o capital de giro quanto para financiar ações de reestruturação, como programas de demissão voluntária, mudanças no plano de saúde e renegociação de passivos atrasados. O valor final do financiamento ainda está sendo definido, mas fontes envolvidas nas negociações afirmam que a operação deve cobrir, ao menos, as necessidades mais urgentes da empresa em 2025.

A operação foi discutida em reunião realizada na última quinta-feira (9) entre os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Esther Dweck (Gestão), Frederico de Siqueira Filho (Comunicações) e representantes do Tesouro Nacional, da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, do Banco do Brasil e da Caixa. A participação dos bancos privados também está prevista. BTG Pactual, Citibank e ABC Brasil, credores da estatal em uma operação anterior, participam das conversas e podem integrar o novo consórcio de financiamento.

A aceleração das tratativas ocorreu após a chegada de Emmanoel Schmidt Rondon ao comando dos Correios. Funcionário de carreira do Banco do Brasil, ele assumiu a presidência da estatal com a missão de conduzir o plano de reestruturação e garantir o equilíbrio financeiro da companhia. Sua primeira medida foi renegociar um empréstimo de R$ 1,8 bilhão contratado no início do ano com BTG Pactual, Citibank e ABC Brasil. O acordo original previa o pagamento em seis parcelas a partir de junho de 2026, mas cláusulas contratuais previam cobrança antecipada em caso de eventos com impacto jurídico — gatilho acionado após o aumento dos custos com sentenças judiciais no segundo trimestre.

O episódio levou os bancos a reter parte dos valores a receber e deixou os Correios momentaneamente sem recursos suficientes para pagar salários, obrigando a empresa a negociar uma solução emergencial. As novas condições do contrato incluíram juros mais altos e antecipação da primeira parcela para janeiro de 2026, alternativa considerada menos onerosa do que a cobrança imediata prevista no acordo original.

A situação financeira da estatal segue delicada. No segundo trimestre de 2025, os Correios registraram prejuízo de R$ 2,64 bilhões — quase cinco vezes o resultado negativo do mesmo período de 2024, de R$ 553,2 milhões. No acumulado do primeiro semestre, o rombo chegou a R$ 4,37 bilhões, triplo do prejuízo de R$ 1,35 bilhão registrado no mesmo intervalo do ano anterior.

O plano de ajuste em discussão no governo busca estabilizar as finanças da empresa e preparar o terreno para uma redução estrutural de custos a partir de 2027. Atualmente, o gasto fixo anual dos Correios varia de R$ 20 bilhões a R$ 25 bilhões, o que torna difícil promover ajustes em períodos de queda de receita. A expectativa do governo é que, com as medidas em curso e o reforço de caixa, a estatal consiga recuperar competitividade e alcançar sustentabilidade financeira nos próximos anos.

Postagens relacionadas

1 of 510