(Por Letícia Bogéa – Analista de Economia do Boletim Nacional)
O aumento das apostas on-line no Brasil expõe um problema que vai muito além do entretenimento: mostra um comportamento coletivo voltado para o imediatismo, onde a promessa de ganhos rápidos se sobrepõe ao pensamento de longo prazo. Em um país onde a educação financeira ainda engatinha, a facilidade de acessar aplicativos de jogos e apostas cria o “cenário perfeito” para decisões impulsivas que, muitas vezes, custam caro (literalmente).
Cada clique em uma plataforma de apostas estimula o cérebro com doses de dopamina, o neurotransmissor associado ao prazer e à recompensa. Essa sensação momentânea, semelhante à provocada por drogas, faz com que o indivíduo busque repetir a experiência, muitas vezes ignorando as perdas acumuladas (a pessoa só diz o que ganha e ignora o que perde, e na maioria a perda é maior que o ganho). O resultado é um ciclo vicioso: a pessoa aposta mais para tentar recuperar o que perdeu e acaba afundando ainda mais.
O vício em apostas leva a quadros de ansiedade, depressão, insônia e isolamento social. O descontrole financeiro compromete objetivos de vida, destrói relacionamentos e gera dívidas cada vez maiores.
Refletir sobre o próprio comportamento é o primeiro passo para evitar esse ciclo destrutivo. A educação financeira é a melhor estratégia para proteger o presente e garantir um futuro mais estável.
Neurociência comportamental
A neurociência mostra que nosso cérebro é programado para buscar padrões mesmo onde eles não existem, um fenômeno chamado apofenia (ilusão de padrões). É por isso que muitos apostadores acreditam ver lógica em resultados aleatórios e acham que podem “prever” a próxima jogada. A ilusão de controle alimenta o vício.
Reconhecer esse mecanismo é importante para romper o ciclo. O jogo não tem lógica: cada rodada é independente da anterior. Só com disciplina comportamental e consciência emocional é possível enxergar a realidade, evitar decisões impulsivas e impedir que um hábito destrua sua saúde mental. É o seu comportamento que vai ditar o rumo da sua vida; em qualquer área. Decisões acertadas constroem caminhos; decisões impulsivas os destroem.
Escolher investir em vez de apostar é decidir por saúde mental e saúde financeira. Uma precisa da outra. E não é jogando que você terá ambas.
Quem decide é você!