A crise que se instalou na Ambipar (AMBP3), com a empresa próxima de um pedido de recuperação judicial, elevou a percepção de risco dos investidores estrangeiros sobre o mercado corporativo brasileiro. O alerta acendeu também diante de incertezas envolvendo outras grandes companhias, como Braskem e Raízen, e já começa a impactar o preço dos títulos de dívida emitidos por empresas nacionais no exterior.
O índice do J.P. Morgan que acompanha o desempenho dos papéis corporativos brasileiros recuou 3% desde que a Ambipar entrou com pedido de tutela antecipada para se proteger de credores, acumulando alta de apenas 2,1% no ano — bem abaixo dos 7,1% de 2024 e dos 7,5% de 2023, quando veio à tona a fraude contábil da Americanas. No mesmo período, o índice geral da América Latina sobe 6,9%.
A preocupação é que episódios como o da Ambipar criem um efeito de contágio e provoquem uma nova crise de crédito em um ambiente de juros elevados e forte endividamento corporativo. O caso ganhou ainda mais relevância porque a companhia havia captado US$ 400 milhões em dívida externa há apenas seis meses. Hoje, seus títulos são negociados a cerca de 15% do valor de face, refletindo a expectativa de reestruturação.
As incertezas aumentaram quando a Braskem contratou a Lazard para revisar sua estrutura de capital, ampliando especulações sobre uma possível reestruturação de dívida. Em seguida, os bonds da Raízen também sofreram forte desvalorização, diante do risco de perda do grau de investimento. A empresa negou intenção de reestruturar e afirmou que avalia alternativas de capitalização, o que ajudou a estabilizar os papéis.
No cenário global, a cautela também cresce após falências inesperadas nos Estados Unidos, como a da financiadora Tricolor Holdings e a da fornecedora de autopeças First Brands. Esse ambiente pressiona companhias mais alavancadas e pode dificultar a rolagem de dívidas, inclusive no mercado interno, onde investidores tendem a priorizar emissores de menor risco.
Empresas como a CSN, que chegou a planejar uma emissão externa em outubro, adiaram os planos em meio à volatilidade. A siderúrgica afirma estar focada em reduzir sua alavancagem, atualmente em 3,24 vezes, e em estruturar novos projetos para geração de caixa.
Para gestores de crédito, os impactos no mercado doméstico ainda são limitados. Segundo Eduardo Alhadeff, da Ibiuna, os fundos seguem com fluxo positivo, o que ajuda a conter um cenário de crise. Já Sami Karlik, da Tivio Capital, avalia que, embora os eventos tenham elevado a preocupação, a qualidade média do crédito corporativo brasileiro permanece sólida e os resultados recentes foram acima do esperado.
Especialistas também afirmam que, apesar da tensão, não houve mudanças macroeconômicas relevantes que justifiquem um cenário de deterioração estrutural. A expectativa é que a demanda por ativos brasileiros continue impulsionada pelos cortes de juros nos Estados Unidos e pelo diferencial de rentabilidade. Em 2025, as emissões externas de empresas do país somam cerca de US$ 30 bilhões, maior volume dos últimos anos.
Mesmo assim, a Fitch Ratings alerta que companhias com vencimentos próximos e acesso restrito ao mercado internacional podem enfrentar condições mais duras de financiamento. Já a Moody’s observa que o mercado segue equilibrado, com número semelhante de rebaixamentos e elevações de rating até agora.
Enquanto isso, investidores locais também demonstram sensibilidade ao cenário. Muitos aplicaram em CDBs e certificados de operações estruturadas atrelados à Ambipar, registrando perdas significativas. Empresas com balanços mais frágeis têm recorrido a instrumentos de curto prazo, como notas comerciais e operações de desconto de recebíveis, para manter liquidez.
Ambipar e Braskem não se pronunciaram sobre o assunto. A Raízen reiterou que não considera nenhuma forma de reestruturação e que seus controladores estudam alternativas de capitalização.