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Recuo no preço da gasolina pressiona IPCA para baixo e aproxima inflação da meta

Com impacto direto no IPCA, queda do combustível pode consolidar trajetória de desaceleração da inflação

A redução no preço da gasolina, anunciada pela Petrobras nesta segunda-feira (20), deve reforçar a tendência de desaceleração da inflação no Brasil nos próximos meses e pode levar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a encerrar 2025 abaixo do teto da meta, em 4,4%. O combustível tem um dos maiores pesos individuais no cálculo da inflação, respondendo por cerca de 5% do índice, e sua queda tem efeito direto no resultado.

Segundo cálculos do economista André Braz, do FGV Ibre, a redução anunciada terá impacto de aproximadamente 0,11 ponto percentual no IPCA em um período de 30 dias. A expectativa é de uma contribuição negativa de cerca de 0,04 p.p. ainda em outubro e de até 0,07 p.p. em novembro. Já para a estrategista de inflação Andréa Angelo, da Warren Investimentos, a maior parte do impacto será sentida no penúltimo mês do ano, reduzindo a projeção de inflação de 0,18% para 0,10% em novembro.

Com a desaceleração prevista, a inflação anual ficaria abaixo do teto da meta de 4,5% fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Nesse cenário, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, escaparia de ter que redigir uma nova carta ao governo explicando o descumprimento da meta — obrigação que ocorre caso o IPCA permaneça acima do intervalo por seis meses consecutivos. A última carta foi enviada em julho e, até agora, o cenário aponta para a convergência da inflação dentro dos parâmetros estabelecidos.

A revisão das projeções já aparece nos relatórios do Boletim Focus, elaborado por economistas do próprio BC, que reduziu a expectativa de inflação pela quarta semana consecutiva. Além do combustível, a expectativa de retorno da conta de luz à bandeira verde até dezembro e a estabilidade dos preços dos alimentos devem continuar pressionando o IPCA para baixo. Mesmo em caso de alta moderada nos alimentos, analistas acreditam que o impacto será menor que o observado no ano passado.

Para o economista Matheus Dias, também do Ibre, ainda há espaço para novos cortes nos preços dos combustíveis. Ele aponta que a Petrobras tem mantido o preço da gasolina acima do valor de paridade de importação (PPI) e que uma queda no preço internacional do petróleo poderia levar a novos reajustes. Já Andréa Angelo avalia que a probabilidade de novas reduções é menor, dependendo de um cenário mais favorável no câmbio ou no mercado internacional.

Apesar das revisões otimistas para 2025, analistas ainda não veem espaço para cortes na taxa básica de juros (Selic) neste ano. A maioria das projeções indica que o ciclo de redução deve começar apenas na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de 2026. A inflação projetada para aquele ano segue acima de 2025, em torno de 4,6%, o que demanda mais segurança por parte da autoridade monetária antes de iniciar um ciclo de flexibilização.

As estimativas, contudo, ainda divergem entre as casas de análise. A equipe macroeconômica da ASA revisou sua previsão de 4,7% para 4,5%, enquanto o Terra Investimentos projeta o IPCA em 4,96% no fim de 2025 — ainda acima do teto, mesmo com a queda no preço da gasolina.

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