O ex-diretor financeiro da Ambipar, João Arruda, ingressou com uma ação cautelar de busca e apreensão de documentos contra a companhia, incluindo e-mails corporativos e registros eletrônicos. Segundo a petição, o material é essencial para comprovar sua inocência nas acusações relacionadas à crise financeira que levou o grupo a pedir recuperação judicial.
A ação, que tramita na Vara Empresarial de São Paulo, sustenta que há risco de destruição de provas e afirma que Arruda estaria sendo transformado em “bode expiatório” por uma estratégia interna supostamente criada para blindar os verdadeiros responsáveis pela situação da empresa. “E-mails podem ser deletados permanentemente, servidores podem ser ‘limpos’ e documentos podem desaparecer. A simples intimação para que apresentem os documentos voluntariamente seria o equivalente a entregar-lhes um convite para destruir as provas que os incriminam”, diz trecho da petição.
Entre os documentos anexados está a carta de renúncia enviada por Arruda ao conselho de administração e ao CEO e fundador da Ambipar, Tércio Borlenghi Júnior. No texto, datado de 19 de setembro, o ex-diretor relata que decisões estratégicas e financeiras vinham sendo conduzidas diretamente por Borlenghi e por diretores ligados a ele, sem transparência e sem sua participação, inclusive em reuniões com bancos e credores das quais era excluído.
A ação também questiona a governança da empresa, especialmente em relação ao caixa e às aplicações financeiras da Ambipar. Arruda aponta irregularidades na estrutura de um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC), avaliado em bilhões de reais, cuja existência só teria sido conhecida por ele e pelo mercado após a divulgação do balanço do segundo trimestre, auditado pela Deloitte — auditoria cuja contratação, segundo afirma, foi solicitada por ele próprio.
No processo, Arruda alega que bancos credores da Ambipar levantaram suspeitas de que o esvaziamento do caixa da companhia pode estar relacionado a operações ligadas ao controlador Tércio Borlenghi e a seu filho, Guilherme Borlenghi, e não ao contrato de swap com o Deutsche Bank, como vem sustentando a empresa.
A petição ressalta ainda a contradição entre os valores apresentados em auditoria e as declarações da companhia. Segundo Arruda, relatórios da BDO e da Deloitte indicaram um caixa de R$ 4,7 bilhões, enquanto, pouco depois, a Ambipar alegou não dispor de recursos suficientes para cobrir uma chamada de margem de apenas R$ 60 milhões feita pelo banco alemão. A discrepância reforçaria, segundo ele, a necessidade de esclarecer quem controlava efetivamente o caixa e como as informações eram repassadas ao mercado.
Na Justiça, Arruda solicita que a empresa apresente documentos que comprovem que ele não assinou o aditivo contratual com o Deutsche Bank e que a operação, ao contrário do que foi alegado, não teve irregularidades. Ele defende que o contrato reduziu custos de swap e ampliou a proteção cambial, configurando uma decisão técnica correta e benéfica à companhia.
Após obter acesso aos documentos, o ex-diretor pretende ingressar com ações cível e criminal contra a Ambipar e seus dirigentes, acusando-os de denunciação caluniosa e de danos à sua reputação profissional, que afirma ter sido construída de forma ilibada ao longo de sua carreira no mercado financeiro.









