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Confiança do comércio cai ao menor nível desde 2021 com juros altos e endividamento recorde

Índice de confiança do comércio recua para 95,7 pontos e revela retração nas contratações e nos investimentos

A confiança dos empresários do comércio brasileiro atingiu o menor patamar desde a pandemia, em meio ao crédito caro e à desaceleração da atividade econômica. Segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o pessimismo aumentou de forma expressiva entre setembro e outubro, refletindo o impacto dos juros elevados e do enfraquecimento da demanda.

O levantamento mostra que 46% dos empresários em setembro e 43,6% em outubro projetavam piora para a economia brasileira — os maiores percentuais desde junho de 2020. Para João Marcelo Costa, economista da CNC, a taxa básica de juros, atualmente no maior nível em quase duas décadas, é o principal fator por trás da retração nas expectativas.

“O empresário do comércio precisa se financiar, depende do fluxo de caixa para fazer contratações e investir. Quando os juros estão altos, o crédito de capital de giro se torna mais caro e difícil de acessar”, explicou Costa.

A pesquisa indica que as intenções de investimento caíram para 99,1 pontos em outubro, permanecendo abaixo da linha de 100 pelo segundo mês consecutivo — o que sinaliza pessimismo. Na comparação anual, houve retração de 4,2%. O recuo foi mais acentuado na intenção de contratar funcionários, que caiu de 121,1 pontos em junho para 112 pontos em outubro, queda de 6,3% em relação ao ano anterior.

Os planos de expansão dos negócios também diminuíram, atingindo 93,4 pontos, o que representa baixa de 1,2% no mês e de 5,7% em 12 meses. Apenas a intenção de ampliar estoques apresentou leve alta de 0,5% no período.

Além dos juros elevados, o alto nível de endividamento das famílias tem pressionado o comércio. Dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da CNC, mostram que 30,5% das famílias tinham contas em atraso em setembro — o maior índice da série histórica. “As pesquisas de atividade do IBGE já indicam que a economia começa a arrefecer, e nesse cenário as pessoas consomem menos. Há muitas famílias endividadas, com menor renda disponível para o consumo”, observou o economista.

A queda na confiança foi generalizada, atingindo todos os segmentos do varejo. As lojas de eletrônicos, eletrodomésticos, móveis, materiais de construção e veículos registraram retração de 14,5% em relação a outubro de 2024, as maiores do levantamento. Supermercados, farmácias, lojas de cosméticos e de roupas também apresentaram reduções expressivas, de 10,6% e 9,1%, respectivamente.

O índice geral de confiança do comércio, que também reflete a percepção sobre o cenário atual da economia, caiu para 95,7 pontos em outubro, permanecendo abaixo da linha de 100 pelo segundo mês consecutivo. Segundo a CNC, 77,4% dos comerciantes avaliaram piora nas condições econômicas do país. Entre julho e outubro, o indicador acumulou queda de 10,3%, registrando o menor nível desde maio de 2021.

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