O governo brasileiro estuda reduzir a tarifa de importação do etanol dos Estados Unidos, atualmente em 18%, em troca da suspensão das sobretaxas aplicadas pelo governo americano ao café e à carne brasileiros. A proposta foi discutida após o encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, realizado em Kuala Lumpur, na Malásia, e faz parte das tratativas iniciais para um possível acordo comercial entre os dois países.
Segundo assessores que acompanharam a reunião, a expectativa do Planalto é que Washington retire os 40% adicionais aplicados sobre os produtos brasileiros, que se somam à tarifa geral de 10% imposta a todas as nações. A definição sobre se a retirada será imediata ou gradual dependerá das negociações, que ainda estão em fase preliminar.
A conversa entre Lula e Trump foi considerada o primeiro passo para destravar o diálogo comercial. De acordo com relatos, ambos os líderes apenas “quebraram o gelo” e manifestaram disposição para negociar. Em entrevista coletiva, Lula afirmou que alertou Trump sobre a complexidade das tratativas que virão pela frente. “Eu ainda disse para ele: com três reuniões que você fizer comigo, vai perceber que o Bolsonaro era nada, praticamente”, brincou o presidente.
Lula declarou que está aberto a discutir diferentes setores estratégicos, incluindo açúcar, etanol e terras raras. Do lado americano, embora ainda não haja uma lista oficial de demandas, espera-se que as negociações envolvam temas como minerais críticos, carne e regulação das big techs.
A tarifa de 18% sobre o etanol dos Estados Unidos foi restabelecida em 2023, após um período de isenção, como parte de uma estratégia para ampliar o acesso do açúcar brasileiro ao mercado norte-americano. A medida, porém, agora é vista como um possível instrumento de barganha nas tratativas comerciais.
Produtores brasileiros de etanol, especialmente do Nordeste, reagiram negativamente à possibilidade de o setor ser usado como moeda de troca. Para eles, a redução da tarifa poderia afetar a competitividade da produção nacional e favorecer a entrada do etanol americano no mercado interno.
O Brasil é o principal fornecedor de café e carne bovina para os Estados Unidos. No ano passado, o país respondeu por cerca de 30% das importações de café dos norte-americanos. Mesmo com a sobretaxa, as exportações de carne bovina seguiram em alta, com crescimento de 65% em volume e embarques que somaram 218 mil toneladas no acumulado do ano.
A proposta de redução da tarifa do etanol deve ser avaliada em conjunto pelos ministérios da Fazenda, das Relações Exteriores e da Agricultura, antes de ser formalmente apresentada aos Estados Unidos.









