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Analistas avaliam decisão do FED de cortar taxa básica de juros dos Estados Unidos

Com o mercado de trabalho em desaceleração e inflação persistente, o Fed age com prudência e adia previsões para os próximos cortes

O Federal Reserve anunciou nesta quarta-feira (29) um novo corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros dos Estados Unidos, levando-a ao intervalo entre 3,75% e 4%. A decisão, a segunda consecutiva do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), busca conter o aperto de liquidez e estimular a atividade econômica em meio a sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho. Apesar de amplamente esperada, a medida veio acompanhada de um tom de cautela e de divergências internas entre os dirigentes do banco central americano.

Segundo Caique Stein Laguna, sócio e especialista em investimentos offshore da Blue3 Investimentos, a redução dos juros reflete o esforço do Fed em equilibrar estímulo e prudência num cenário de incertezas. Ele destaca que, além do corte, o Fed anunciou a retomada das compras limitadas de Treasuries e a estabilização do balanço a partir de dezembro, sinalizando intenção de manter condições financeiras mais estáveis. “A atividade econômica ainda cresce de forma moderada, o desemprego está baixo, mas a inflação segue resistente. O corte foi uma escolha equilibrada diante da ausência de dados recentes causada pelo shutdown do governo americano”, explica Laguna.

Para o economista e sócio da Blue3, José Áureo Viana, a decisão reflete um movimento preventivo do Fed frente ao enfraquecimento do mercado de trabalho. “A inflação ainda está acima da meta e os indicadores chegam com atraso, o que torna a leitura de cenário mais difícil. O encerramento do programa de aperto quantitativo em dezembro reforça uma estratégia de flexibilização gradual”, afirma. Viana observa que a medida já estava amplamente precificada e tende a sustentar ativos de risco e aliviar o dólar no curto prazo, o que beneficia economias emergentes como o Brasil. “Mas a trajetória até 2026 dependerá da consistência dos próximos dados e da comunicação futura do banco central americano”, pondera.

Já Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, ressalta que o tom do comunicado e as declarações do presidente Jerome Powell foram determinantes para o humor dos mercados. “Powell deixou claro que nada está garantido para dezembro. Ele foi explícito ao dizer que não se tratava de um comentário protocolar, mas de um reflexo das incertezas do atual balanço de riscos”, analisa. Segundo Igliori, a falta de unanimidade entre os membros do FOMC — com Stephen Miran defendendo um corte maior e Jeffrey Schmid votando pela manutenção dos juros — evidencia divergências sobre o ritmo da política monetária. “Depois de muito tempo, as preocupações com o emprego superam as com a inflação, mas os riscos permanecem altos em ambas as frentes”, afirma. Para ele, o discurso mais duro de Powell provocou reação negativa nos mercados, elevando a probabilidade de manutenção dos juros na próxima reunião.

Camilo Cavalcanti, gestor de portfólio da Oby Capital, também destaca a importância das falas de Powell sobre a reunião de dezembro. “Hoje o mercado precifica mais de 90% de chance de um novo corte, mas o presidente do Fed foi enfático ao dizer que há divergências significativas entre os membros. Isso afeta diretamente a curva de juros, o câmbio e a bolsa”, explica. Cavalcanti vê o cenário como um ponto de virada: “O Fed não está mais em terreno previsível. A comunicação se tornou parte central da política monetária, e qualquer nuance no discurso de Powell passa a ter peso imediato sobre os mercados globais”.

A decisão, portanto, consolida a percepção de que o Federal Reserve está buscando um ponto de equilíbrio delicado entre o combate à inflação e a preservação do crescimento. Com os juros agora na faixa de 3,75% a 4% e a política de aperto quantitativo próxima do fim, a incerteza sobre os próximos passos aumenta. Enquanto parte do mercado vê espaço para novos cortes, outra parcela teme que a autoridade monetária pause o ciclo em meio a um cenário de inflação persistente e divergências internas. O consenso é que, mais do que os números, o tom do Fed seguirá ditando o ritmo da confiança global nos próximos meses.

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