O Banco Central estuda medidas para tornar mais transparente a remuneração de assessores financeiros e plataformas na venda de títulos bancários, como CDBs e LCIs, em meio à repercussão do caso Banco Master. A iniciativa busca reduzir conflitos de interesse e fortalecer a proteção do investidor, num momento em que o Master, em dificuldades financeiras, depende de uma linha emergencial de R$ 4 bilhões do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
A discussão ocorre diante da possibilidade de o FGC realizar a maior indenização de depósitos da história caso o Master venha a ser liquidado. Estima-se que o banco tenha cerca de R$ 50 bilhões em papéis cobertos pela garantia e quase um milhão de investidores aptos a receber ressarcimento.
Fontes próximas ao debate afirmam que o BC pretende exigir mais clareza sobre as comissões pagas aos intermediários e os incentivos oferecidos pelos bancos emissores. A medida se inspira nas regras adotadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em vigor desde 2023, que determinam a divulgação detalhada dos custos e remunerações na distribuição de produtos financeiros.
Atualmente, quando um CDB é vendido, tanto a plataforma de investimentos quanto o assessor financeiro recebem comissões do banco emissor. Essa prática tem levantado questionamentos sobre se a recomendação é feita com base na adequação do produto ao perfil do cliente ou na remuneração do distribuidor.
No caso do Banco Master, assessores e plataformas destacaram a alta rentabilidade dos títulos — que chegaram a pagar 140% do CDI, contra 115% de outros bancos médios — e a cobertura do FGC até R$ 250 mil por investidor. Corretoras como XP e BTG concentraram mais de 70% das emissões com garantia do fundo, somando cerca de R$ 36 bilhões distribuídos.
Mensagens enviadas a clientes, obtidas pelo jornal Folha de S.Paulo, mostram que assessores faziam cálculos para limitar o investimento dentro do teto garantido, estimulando a pulverização de aplicações em diversos papéis do banco. Além disso, as comissões oferecidas eram significativamente maiores: enquanto a média do mercado é de 0,5% ao ano, os CDBs longos do Master pagavam até 4% no vencimento.
O modelo levantou preocupações entre reguladores e analistas do mercado. Para Rafael Chaves, professor da FGV, a estrutura de incentivos contribuiu para distorcer a percepção de risco. “Não é correto que um banco em situação frágil elimine seu risco por meio do FGC. Isso é negativo para o sistema financeiro como um todo”, afirma.
O BC avalia as mudanças dentro do arcabouço regulatório vigente e busca equilibrar transparência e custo de conformidade para bancos de diferentes portes. Internamente, a instituição considera fundamental aprimorar a comparabilidade das informações e aumentar a compreensão dos investidores sobre os riscos e custos de cada produto.
O episódio também reacendeu o debate sobre o papel das plataformas digitais na captação de recursos de bancos médios. Embora tenham ampliado o acesso do investidor ao mercado financeiro, sua atuação tem se mostrado decisiva para o fluxo de funding dessas instituições. “A captação via plataformas é menos estável que aquela feita diretamente pelo banco, porque pode ser interrompida a qualquer momento”, avalia Alexandre Albuquerque, analista da Moody’s Ratings.
Em agosto, o BC já havia dobrado a contribuição das instituições ao FGC para coibir o excesso de captação baseada na garantia do fundo, mas a medida só entra em vigor em junho de 2026 e foi considerada limitada por especialistas. Enquanto isso, o caso Master segue pressionando o sistema e reacendendo o debate sobre a necessidade de reformar o modelo de distribuição de produtos bancários no país.









