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Mercado aposta em Selic estável e corte de juros apenas em 2026, apontam economistas

Analistas veem melhora na inflação, mas esperam manutenção da Selic e discurso duro do Copom

Apesar da melhora nas expectativas de inflação e dos primeiros sinais de desaceleração da economia, o Banco Central deve manter a taxa Selic em 15% ao ano e preservar o tom conservador em sua comunicação. A expectativa unânime do mercado é que o Comitê de Política Monetária (Copom) não altere os juros na reunião desta quarta-feira (5), adiando qualquer movimento de flexibilização para 2026.

Levantamento do Valor com 120 instituições financeiras mostra que não há apostas em mudança da taxa nesta semana. A maioria dos economistas também descarta cortes ainda em 2025, cenário que já havia perdido força desde a reunião anterior. Em setembro, 30% dos analistas apostavam em redução dos juros neste ano; agora, menos de 10% mantêm essa previsão.

Segundo o levantamento, 40% das casas esperam que o ciclo de cortes comece apenas a partir de março de 2026. A mudança reflete a comunicação mais cautelosa do BC, que insiste na necessidade de manter a Selic elevada por um período “bastante prolongado” até que as expectativas de inflação estejam plenamente ancoradas.

Mesmo com os indicadores mostrando melhora gradual, o Copom ainda vê risco em antecipar a flexibilização. A inflação corrente tem cedido, e o mercado de trabalho dá sinais de desaceleração, mas as expectativas seguem acima da meta. “A inflação mostra tendência de queda, mas ainda está em patamar alto, e a atividade permanece aquecida. As condições para o corte ainda não estão dadas”, explica Alexandre Bassoli, economista-chefe da Apex Capital.

A projeção da Apex é de que o BC inicie um ciclo moderado em janeiro, totalizando uma redução de 2,5 pontos percentuais em 2026. Bassoli argumenta, porém, que a manutenção de juros altos em cenário de inflação cadente tende a elevar o juro real, forçando o BC a agir mais à frente.

Para Luiz Maciel, economista-chefe da Bahia Asset, o Copom deve resistir a mudanças no discurso. “Com uma postura dura, o BC conseguiu conter expectativas e manter a inflação sob controle. Mudar agora não faria sentido”, afirma. Ele acredita que o modelo do BC deve projetar inflação de 3,2% no horizonte relevante, ante 3,4% em setembro, reforçando a leitura de que o ciclo de juros elevados ainda será duradouro.

Adauto Lima, da Western Asset, vê cenário semelhante. Para ele, a melhora das expectativas de inflação não justifica suavizar o discurso. “O BC vai usar essa folga para promover uma desinflação mais completa e consolidar a convergência para a meta”, diz. Lima prevê corte inicial de 0,25 ponto em janeiro e aceleração para 0,5 ponto a partir de março, com a Selic terminando 2026 em 12%.

Já Mauricio Une, estrategista do Rabobank, aposta que o BC manterá o texto do comunicado praticamente inalterado. “O plano de voo é o mesmo, e o comunicado deve ser uma repetição da reunião passada. O balanço de riscos não mudou”, afirma. Para ele, o primeiro corte deve ocorrer apenas em abril, possivelmente de 1 ponto percentual, caso os dados do fim de 2025 confirmem a desaceleração.

Entre os analistas, há consenso de que o Copom continuará enfatizando o compromisso com a estabilidade de preços e a necessidade de consolidar a ancoragem das expectativas antes de qualquer afrouxamento. O cenário base segue sendo de juros altos por mais tempo — e de um ciclo de cortes graduais e limitado, quando finalmente for iniciado.

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