
O Banco Central (BC) decidiu encerrar oficialmente o projeto do real digital, conhecido como Drex, conforme reunião realizada nesta terça-feira (4) com representantes dos consórcios que participavam da iniciativa. Segundo fontes ouvidas pelo Valor Investe, o desligamento da plataforma está previsto para a próxima semana, marcando o fim da etapa experimental do programa.
De acordo com interlocutores do BC, o encerramento não deve ser interpretado como um fracasso, mas como o encerramento de um ciclo de aprendizado sobre a aplicação de tecnologias como blockchain no sistema financeiro nacional. “Trata-se realmente do fim do Drex, mas o projeto demonstrou o potencial das tecnologias distribuídas e reforçou o papel do mercado na próxima fase de inovação”, disse uma das fontes.
O Drex vinha sendo desenvolvido desde 2022 com o objetivo de criar uma versão digital do real para transações financeiras tokenizadas e liquidação instantânea. No entanto, dificuldades relacionadas à privacidade e ao sigilo bancário inviabilizaram o uso da tecnologia blockchain em escala. Em agosto, o coordenador do projeto, Fábio Araújo, já havia afirmado que o BC abandonaria essa abordagem, por não conseguir garantir a confidencialidade das transações entre instituições financeiras.
Sem comunicação oficial até o momento, o BC deve agora concentrar esforços em um levantamento dos aprendizados e benefícios do piloto, incluindo os casos de uso testados, como empréstimos com garantias tokenizadas, recebíveis de cartão e liquidação de ativos financeiros digitais. A meta é avaliar como esses modelos poderão ser implementados de forma segura e eficiente sob novas arquiteturas tecnológicas.
Entre os próximos passos, uma nova fase de estudos — informalmente chamada de “fase 3” — está prevista para o início de 2026, com foco em soluções de tokenização e interoperabilidade entre plataformas. O objetivo será garantir que ativos digitais possam ser usados como garantias de crédito ou integrados a diferentes sistemas de pagamento, com liquidação final em moeda emitida pelo próprio Banco Central.
Para André Carneiro, presidente da BBChain, uma das empresas participantes do consórcio, o encerramento do Drex abre espaço para uma nova etapa de inovação liderada pelo setor privado. “Modelos de negócio com escopos mais direcionados poderão atender aos requisitos de mercado sem as restrições regulatórias do piloto, liberando o potencial das tecnologias DLT e blockchain”, afirmou.
Apesar da descontinuação, o BC reforça que continuará engajado no tema, agora com um papel de regulador mais preparado para acompanhar o avanço da digitalização financeira. O desafio, segundo técnicos da instituição, será evitar a fragmentação das soluções privadas — um dos motivos que inspiraram originalmente a criação do Drex.








