O acordo preliminar firmado entre Estados Unidos e China no fim de outubro, durante encontro entre Donald Trump e Xi Jinping na Coreia do Sul, pode gerar uma perda de até US$ 4 bilhões nas exportações brasileiras de soja para o mercado chinês nos próximos meses. A retomada das compras chinesas de soja americana tende a reduzir a fatia brasileira no comércio global da commodity, que atualmente representa entre 70% e 80% das importações da China.
Segundo informações disponíveis sobre o acordo, Pequim se comprometeu a adquirir ao menos 12 milhões de toneladas de soja dos EUA até janeiro de 2026, chegando a 25 milhões de toneladas anuais até 2028. Caso essa meta seja plenamente cumprida, o impacto sobre o Brasil pode atingir US$ 4 bilhões em receitas, considerando uma base de exportações prevista em quase US$ 34 bilhões para 2025.
Num cenário parcial, com compras entre 15 e 20 milhões de toneladas de soja americana, a perda de receita brasileira seria menor, próxima de US$ 2,5 bilhões. Mesmo assim, analistas observam que o país continuará como fornecedor relevante, especialmente se houver instabilidade na relação comercial entre Washington e Pequim. Em caso de nova escalada tarifária, o Brasil poderia recuperar espaço e registrar ganhos adicionais próximos de US$ 1,5 bilhão.
Para André Nassar, presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), a previsão é de uma leve redução nas exportações para a China em 2025, mas ainda acima dos níveis de 2024. Antes do acordo, a entidade projetava vendas de 84 milhões de toneladas ao mercado chinês, ante 72 milhões no ano anterior. Com o novo cenário, a estimativa revisada aponta para 82 milhões de toneladas em 2025 e possível queda para 72 a 75 milhões em 2026, caso o fluxo comercial entre EUA e China se normalize.
Além da concorrência americana, o Brasil enfrenta maior competição da Argentina, cuja exportação de soja deve crescer cerca de 17% entre 2025 e 2026, direcionando parte da produção a novos mercados.
Nos Estados Unidos, o acordo foi celebrado pela Casa Branca. “Nossos grandes produtores de soja, que os chineses usaram como peões políticos, estão fora de questão. Eles devem prosperar nos próximos anos”, afirmou o secretário do Tesouro, Scott Bessent. Contudo, reportagem do Wall Street Journal indicou que muitos agricultores americanos permanecem céticos. Eles temem que o entendimento seja temporário e que novas tensões comerciais possam desfazer o pacto.
Um dos produtores ouvidos pelo jornal destacou que, mesmo que o acordo alivie as perdas no curto prazo, não resolve o desafio estrutural enfrentado pelos EUA: a competitividade do Brasil. O país ultrapassou os Estados Unidos como maior exportador mundial de soja há mais de uma década, impulsionado pela expansão agrícola e pela disponibilidade de terras e mão de obra.
Os analistas ressaltam que o cenário segue incerto. Enquanto processadores de ração e empresas de alimentos da Tailândia, Bangladesh e Paquistão aumentam as compras de soja americana, o Brasil ainda mantém presença dominante no mercado chinês e segue buscando diversificação de destinos, em meio a um ambiente comercial global em reconfiguração.








