Uma nova rodada da pesquisa A Cara da Democracia 2025 revela que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, reúne um eleitorado mais heterogêneo do que o ex-presidente Jair Bolsonaro, de quem é considerado o principal herdeiro político na disputa presidencial do ano que vem. O levantamento mostra que 22% dos brasileiros que afirmam gostar ou gostar muito de Tarcísio votaram em Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno de 2022, enquanto 65% declararam ter optado por Bolsonaro. O dado indica que parte relevante da base atual do governador reúne eleitores que fizeram escolhas distintas na última eleição presidencial, com presença significativa de perfis que transitaram entre os dois polos políticos.
A pesquisa foi realizada presencialmente com 2,5 mil entrevistados entre 17 e 26 de outubro, com margem de erro de dois pontos percentuais e nível de confiança de 95%. O estudo foi conduzido por pesquisadores de instituições como UFMG, Unicamp, UnB, Uerj e Enap, com financiamento do CNPq e da Fapemig. Os números sugerem que a base de Tarcísio tem composição mais ampla, com presença de segmentos do eleitorado lulista que rejeitaram Bolsonaro em 2022, mas que hoje demonstram alguma afinidade com o governador paulista.
Segundo o cientista político João Feres Júnior, da Uerj, parte desse público pode ser formada por eleitores de direita com perfil mais tecnocrático, que se identificam com a gestão de Tarcísio, mas rejeitam o comportamento e o discurso do ex-presidente. Para o coordenador da pesquisa, Leonardo Avritzer, a menor rejeição a Tarcísio em relação a Bolsonaro também ajuda a explicar a presença maior de indivíduos que votaram em Lula entre aqueles que têm avaliação positiva do governador.
O levantamento mostra igualmente que a resistência a Tarcísio é menor entre aqueles que avaliam o governo Lula como ótimo. Nesse grupo, 64% afirmam não gostar ou gostar pouco do governador, enquanto entre os mesmos eleitores o índice de rejeição a Bolsonaro sobe para 89%. Além disso, 15% nessa faixa dizem ter opinião neutra sobre Tarcísio, percentual que cai para apenas 4% no caso de Bolsonaro. Esse conjunto de eleitores neutros é visto como área de disputa para 2026, já que pode migrar tanto para o grupo que aprova Tarcísio quanto para o de rejeição.
A pesquisa destaca que Tarcísio ainda enfrenta desconhecimento elevado nas regiões fora do Sudeste, especialmente no Nordeste, o que tende a ser um dos desafios para sua consolidação nacional. Ao mesmo tempo, o vínculo com Bolsonaro funciona como ativo e também como fator potencial de desgaste, diante do aumento de investigações e decisões judiciais envolvendo o ex-presidente e aliados próximos.
O estudo também aponta que, embora tenha alguma penetração entre eleitores lulistas, Tarcísio não é unanimidade entre o público bolsonarista. Cerca de um quarto dos que votaram em Bolsonaro no segundo turno de 2022 afirmam não gostar ou gostar pouco do governador, segmento que os pesquisadores associam aos eleitores mais radicais do bolsonarismo. Apesar disso, 42% desse grupo demonstram simpatia por Tarcísio e outros 21% têm opinião neutra.
As diferenças entre os dois perfis de apoiadores aparecem também em questões institucionais. Entre os simpatizantes de Tarcísio, 17% dizem confiar muito na apuração das urnas eletrônicas, enquanto entre os que gostam de Bolsonaro esse percentual cai para 11%. Mesmo assim, a desconfiança é predominante nos dois grupos, com maioria afirmando confiar pouco ou não confiar no sistema de votação.
Outro ponto abordado pela pesquisa é a relação entre preferência política e percepção sobre democracia e ditadura. Entre os entrevistados que consideram que, em determinadas circunstâncias, um regime autoritário poderia ser preferível, 27% têm opinião positiva sobre Tarcísio, índice que sobe para 39% entre os que dizem gostar de Bolsonaro. Mesmo não sendo majoritária, a diferença sugere maior aderência entre bolsonaristas a posições que relativizam a democracia.
A autodefinição ideológica também revela nuances relevantes. Entre os que se colocam mais à esquerda, na faixa de 1 a 4 da escala de 1 a 10, a rejeição a Bolsonaro atinge 87%, enquanto Tarcísio é rejeitado por 70%. Nos segmentos mais à direita, entre 7 e 10 pontos, o ex-presidente mantém vantagem, com 54% de avaliações positivas, ante 35% no caso do governador paulista. Ainda assim, Tarcísio mostra alcance ligeiramente maior em faixas intermediárias, ampliando a abrangência de seu eleitorado.
Quando se observam temas de costumes e valores sociais, os dois grupos de apoiadores apresentam posições muito semelhantes, com maior apoio à redução da maioridade penal e rejeição a pautas como casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, descriminalização das drogas e legalização do aborto. Na agenda econômica, os simpatizantes de Tarcísio demonstram apoio numericamente maior às privatizações do que os simpatizantes de Bolsonaro, com 51% e 43%, respectivamente.
Em termos sociodemográficos, os dois nomes têm mais força entre homens, eleitores com renda entre dois e cinco salários mínimos e parte expressiva daqueles insatisfeitos com a democracia. Tarcísio, no entanto, apresenta distribuição mais uniforme pelo País, variando entre 17% e 22% de avaliação positiva nas cinco regiões, com desempenho mais fraco no Nordeste. Bolsonaro mantém força maior no Centro-Oeste, Sul e Norte, com índices acima de 35%, e também registra seu pior desempenho no Nordeste, com 23%.









