O Morgan Stanley divulgou suas projeções para os mercados acionários da América Latina com foco no cenário de 2026 e manteve o Brasil como a principal aposta entre os países da região. A instituição sustenta recomendação overweight para o mercado brasileiro e avalia que o Ibovespa pode alcançar 200 mil pontos ao final de 2026, o que representaria uma valorização expressiva em relação ao nível atual. Segundo o relatório, o país reúne condições para se tornar um dos destaques globais no próximo ciclo, especialmente pela possibilidade de redução mais acelerada do custo de capital diante de uma política monetária que tende a se normalizar ao longo dos próximos dois anos.
Na avaliação do banco, o ponto central para o desempenho dos ativos brasileiros será o movimento de queda sustentada dos juros reais, hoje entre os mais altos do mundo. Para os estrategistas, o Brasil inicia 2026 em um ambiente no qual os investidores locais possuem a menor participação histórica no mercado acionário doméstico, ao mesmo tempo em que detêm a maior fatia da dívida pública. Essa combinação abre espaço para uma eventual migração relevante de recursos para a renda variável caso o processo de flexibilização monetária avance, fenômeno que poderia impulsionar os múltiplos das empresas listadas e aumentar a liquidez do mercado.
A instituição observa que uma mudança de orientação na política monetária, mesmo que gradual, tende a desencadear um ciclo de reequilíbrio entre consumo, investimento e crescimento, revertendo parte da dinâmica recente marcada por juros elevados e endividamento mais caro para empresas e famílias. Para os analistas, a expansão dos investimentos poderia elevar o potencial de crescimento da economia brasileira, permitindo uma trajetória menos inflacionária e mais alinhada a taxas de juros estruturalmente menores, o que reforçaria um ambiente propício à reavaliação das ações.
O relatório também destaca que o ambiente eleitoral será um elemento determinante para os mercados em toda a região. Argentina já deu início ao seu ciclo, enquanto Chile e Colômbia seguirão na sequência, e o Brasil realizará eleições presidenciais em outubro de 2026. Apesar dos riscos inerentes a períodos eleitorais, o Morgan Stanley avalia que o Brasil está relativamente mais bem posicionado que seus pares, desde que mantenha compromisso com disciplina fiscal e avance em medidas que permitam a redução dos prêmios de risco. Para os estrategistas, o ano de 2026 marca uma fase de transição, mas pode definir os rumos da política econômica brasileira no ciclo seguinte.
A instituição lembra que países como Chile e Colômbia já experimentaram ajustes relevantes na política monetária e foram capazes de antecipar movimentos de flexibilização, com desempenho acima do esperado ao longo de 2025. No caso brasileiro, o banco considera que a principal âncora será a austeridade fiscal. Caso essa diretriz seja mantida, o país poderia desencadear um processo de reposicionamento estrutural, ampliando o espaço para investimento e estimulando a retomada de setores intensivos em capital, o que ajudaria a consolidar uma percepção mais favorável entre investidores locais e estrangeiros.
Para o Morgan Stanley, o desempenho dos mercados latino-americanos em 2026 estará diretamente ligado ao ritmo em que o custo de capital será reduzido. Os analistas ressaltam que nenhum outro país da região se encontra tão exposto a esse movimento quanto o Brasil. Com juros reais ainda próximos de dois dígitos e a Selic em patamar elevado, a instituição projeta que o início de um ciclo de afrouxamento monetário no primeiro trimestre de 2026 poderia abrir caminho para uma redução de aproximadamente 3,5 pontos percentuais ao longo do ano. Essa queda teria potencial para direcionar entre seis e oito bilhões de dólares de recursos domésticos para a Bolsa, apenas pela realocação de portfólios dos investidores locais.
Os economistas do banco também apontam que uma eventual mudança de política monetária após as eleições presidenciais de outubro poderia acelerar ainda mais o reequilíbrio entre consumo e investimento, reforçando a expansão dos múltiplos e favorecendo a retomada do crescimento dos lucros em 2027. O relatório observa que o mercado costuma antecipar esse tipo de movimento, o que explica o otimismo em relação ao desempenho das ações brasileiras no próximo ciclo.
O cenário negativo, por sua vez, é descrito como consequência da manutenção dos juros em níveis elevados por mais tempo, situação que poderia decorrer de um impulso fiscal mais forte ao longo de 2026 e de uma ausência de clareza sobre o futuro da política econômica após as eleições. Nesse contexto, os estrategistas afirmam que a combinação entre compressão de múltiplos e possível recessão de lucros no final de 2026 e início de 2027 representaria um risco relevante para os mercados acionários. O banco ressalta que, embora haja convicção quanto à proximidade de um ciclo de cortes, ainda é cedo para se ter certeza sobre o desfecho eleitoral.
As projeções do Morgan Stanley desenham uma amplitude significativa entre o cenário mais otimista e o mais pessimista. No extremo superior, o banco trabalha com a possibilidade de o Ibovespa alcançar 240 mil pontos, sustentado por queda mais acelerada nos juros e forte reavaliação dos ativos. No extremo inferior, o índice poderia recuar para 95 mil pontos caso as incertezas fiscais e monetárias se prolonguem. A instituição destaca, no entanto, que a relação risco-retorno tende a ser favorável para o Brasil e para a Argentina no horizonte de 2026, especialmente em comparação com outros mercados emergentes.
O relatório também reforça as posições setoriais preferidas do banco, com foco em temas como digitalização, energia e petróleo, e segmentos ligados à defesa. Entre as empresas consideradas estratégicas estão Mercado Livre, Nu Holdings, Petrobras, Vista, Axia, PRIO e Embraer. Em contrapartida, a instituição mantém visão mais cautelosa sobre o consumo, argumentando que o setor ainda enfrenta desafios decorrentes do custo de crédito.
Na análise do Morgan Stanley, o mercado de capitais brasileiro, estimado em 1,6 trilhão de dólares, terá papel decisivo na sustentação do crescimento econômico nos próximos anos. Os estrategistas destacam que o índice de investimento sobre o PIB permanece abaixo da média regional e que a participação acionária dos investidores locais nunca foi tão baixa. Para a instituição, os elementos que poderiam destravar valor já estão visíveis, sobretudo a possibilidade de uma queda mais robusta nos juros reais, condição considerada essencial para recolocar o país em trajetória de expansão mais equilibrada.









