O plano de reestruturação dos Correios avança em meio à forte deterioração financeira observada ao longo dos últimos dois anos, período em que o estoque de precatórios da estatal apresentou crescimento expressivo. O montante devido em função de decisões judiciais finais passou de R$ 367,4 milhões em junho de 2023 para R$ 2,05 bilhões no mesmo mês de 2025, alta de 458%. A estatal pretende contratar uma consultoria para realizar um diagnóstico detalhado desses processos, identificando causas, riscos e valores envolvidos, medida considerada necessária para ajustar provisões e aperfeiçoar práticas contábeis.
Do total de precatórios acumulados, R$ 913,1 milhões precisam ser pagos ainda em 2025, enquanto o restante está programado para quitação em 2026. A parcela prevista para o próximo ano já integra os cálculos da administração sobre a necessidade imediata de recursos. Como revelado anteriormente, a empresa busca ao menos R$ 10 bilhões em empréstimos para recompor caixa, regularizar dívidas e executar o plano de reorganização operacional.
A elevação do volume de precatórios é apontada como um dos fatores que ampliaram o prejuízo da estatal no ano. Além das despesas judiciais, pesam o aumento dos custos com pessoal e a queda de receitas. O prejuízo acumulado chegou a R$ 4,3 bilhões em 2025. Entre abril e junho, o resultado negativo foi de R$ 2,6 bilhões, quase cinco vezes maior que o registrado no mesmo período do ano anterior, quando havia sido apurado déficit de R$ 553,1 milhões.
O avanço das dívidas judiciais também acionou cláusulas de antecipação de pagamento no contrato de financiamento firmado com BTG Pactual, Citibank e Banco ABC Brasil. Para renegociar as condições e evitar o vencimento antecipado, os Correios aceitaram pagar uma taxa adicional de R$ 40,5 milhões, além de um aumento no percentual de juros cobrados. O início do pagamento do principal foi antecipado de junho de 2026 para janeiro do mesmo ano.
No processo de renegociação, a estatal solicitou aos tribunais a confirmação dos precatórios considerados no balanço, com o objetivo de validar números antes de ajustar projeções financeiras. Agora, dentro da revisão mais ampla prevista no plano de reestruturação, a administração pretende analisar individualmente os processos ainda em tramitação para identificar padrões, setores mais demandados e a origem das ações. Levantamentos internos apontam que mais de 70% das causas são antigas, abertas entre a década de 1990 e 2020.
A revisão deve incluir uma reavaliação da provisão destinada a perdas prováveis. Esse valor, classificado como despesa no balanço, tem impacto direto no resultado da estatal. Uma provisão superestimada agrava o prejuízo, enquanto uma subavaliação dificulta a transparência sobre riscos futuros. Ajustar esse ponto é visto como fundamental para restabelecer a credibilidade das demonstrações financeiras.
A avaliação interna é que o diagnóstico aprofundado dará maior precisão às estimativas contábeis e contribuirá para melhorar a percepção sobre governança, considerada estratégica em um momento em que os Correios buscam recuperar estabilidade financeira e reorganizar a gestão.









