EconomiaNotícias

Os bancos brasileiros que deixaram de existir após processo de liquidação

No caso do Bamerindus, a intervenção foi decretada em 1997

A decisão do Banco Central de decretar a liquidação extrajudicial do Banco Master colocou a instituição no mesmo grupo de casos que marcaram profundamente o sistema financeiro brasileiro nas últimas décadas. A medida, anunciada nesta terça-feira, 18, interrompe o funcionamento do banco e afasta seus administradores, inserindo o episódio entre as maiores intervenções já realizadas pelo regulador. Segundo dados de março do BC, o Master possuía 87 bilhões de reais em ativos e 83 bilhões de reais em passivos, dimensões que o colocam entre as liquidações de maior porte desde a década de 1990.

Para executivos do setor bancário, o Master buscou acelerar um acordo de capitalização anunciado na segunda-feira, 17, envolvendo o grupo Fictor e investidores dos Emirados Árabes Unidos. A negociação era vista como uma tentativa de evitar a intervenção, cuja possibilidade vinha sendo discutida nos mercados desde que o BC rejeitou a venda parcial da instituição ao Banco de Brasília (BRB) em setembro. O esforço, porém, foi insuficiente, e o banco passou a integrar a lista de processos de liquidação que se prolongaram por anos.

Os precedentes ajudam a dimensionar o impacto da medida. No caso do Bamerindus, a intervenção foi decretada em 1997, quando o banco registrava 4,2 bilhões de reais em patrimônio negativo. A liquidação extrajudicial iniciou-se no ano seguinte e só foi concluída em 2014. Parte das operações saudáveis foi vendida ao HSBC, e ativos remanescentes foram posteriormente adquiridos pelo BTG Pactual. Outro exemplo é o Cruzeiro do Sul, cuja liquidação extrajudicial foi anunciada em 2012 após a identificação de um rombo de 1,3 bilhão de reais. A falência da instituição foi decretada três anos depois, em 2015. Já o Banco Santos entrou em intervenção em 2004 e teve a liquidação decretada em 2005, com a falência confirmada ainda naquele ano.

O regime de liquidação extrajudicial é acionado pelo BC quando a situação de solvência é considerada irrecuperável ou quando são constatadas infrações graves às normas financeiras. A partir da decisão, o banco deixa de operar, os administradores são afastados, e um liquidante assume a responsabilidade de avaliar ativos, organizar passivos e conduzir os procedimentos necessários. O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) atua no pagamento de valores garantidos aos depositantes, até o limite por CPF e instituição. O processo não tem prazo determinado e pode terminar com o encerramento da liquidação ou com a decretação de falência.

A crise do Master vinha se aprofundando ao longo do ano. O balanço mais recente, de 2024, apontava 16 bilhões de reais em dívidas com vencimento em 2025, número que pressionava a busca por alternativas de capitalização. O controlador, Daniel Vorcaro, tentou duas soluções: primeiro, uma venda ao BRB — rejeitada pelo Banco Central — e, mais recentemente, a negociação com o grupo Fictor. Antes disso, o banco realizou dois aportes de 1 bilhão de reais cada e recorreu a 4 bilhões de reais em recursos do FGC, empréstimo que já havia sido rolado e venceria no fim deste mês. O banco cresceu fortemente com a emissão de CDBs cobertos pelo FGC, estratégia que aumentou sua base de captação, mas também elevou os riscos sistêmicos.

A dificuldade em honrar pagamentos de CDBs levou o Master a buscar recursos adicionais junto a fundos de pensão estaduais e municipais. No total, entidades públicas de previdência aplicaram aproximadamente 2 bilhões de reais em títulos da instituição, operações que passaram a ser investigadas por tribunais de contas e geraram questionamentos sobre a adequação das práticas de alocação. A repercussão desses movimentos contribuiu para o debate regulatório. Em agosto, o Conselho Monetário Nacional aprovou regras mais rígidas para o uso das garantias do FGC, em um comunicado que fez referência indireta ao Master ao afirmar que as mudanças buscavam coibir “o uso desproporcional” das captações garantidas.

O caso agora avança para uma etapa que costuma ser demorada e complexa. Como ocorreu em episódios anteriores, o processo deve envolver disputas judiciais, avaliação de ativos de baixa liquidez e reorganização dos passivos, enquanto o BC e o liquidante buscam preservar a estabilidade do sistema financeiro e minimizar potenciais impactos sobre credores e depositantes.

Postagens relacionadas

1 of 535