Os passivos associados ao Banco Master continuam crescendo desde a decretação de sua liquidação extrajudicial e já ultrapassam R$ 56 bilhões, segundo dados divulgados por diferentes órgãos e investigados pelas autoridades. A maior parcela dessa conta está vinculada às garantias que deverão ser acionadas pelo Fundo Garantidor de Créditos, que estima desembolsar R$ 41 bilhões para proteger depósitos e aplicações de clientes da instituição, podendo alcançar até R$ 49 bilhões conforme o avanço da análise sobre a base de credores. Paralelamente, o Banco de Brasília repassou R$ 12,2 bilhões ao Master nos primeiros meses de 2025, operação que a Polícia Federal classifica como irregular por envolver carteiras de crédito consideradas falsas nas investigações da Operação Compliance Zero.
Além dos repasses do BRB e das responsabilidades com depositantes, fundos de previdência de servidores estaduais e municipais acumulam cerca de R$ 1,9 bilhão em títulos vinculados ao banco, enquanto empresas privadas registram ao menos R$ 960 milhões nessas mesmas aplicações. Embora o volume de passivos identificados até agora seja expressivo, esses valores não representam necessariamente o tamanho final do rombo, que ainda depende da avaliação dos ativos, da liquidez dos instrumentos financeiros e da efetivação dos pagamentos previstos na liquidação.
No último balanço anual divulgado, referente a 2024, o Banco Master informava possuir R$ 63 bilhões em ativos. Entretanto, o documento foi acompanhado por ressalvas da auditoria independente, a KPMG, que chamou atenção para a mensuração do valor de mercado de fundos de investimentos, direitos creditórios e precatórios, além de registrar pontos sensíveis relacionados ao reconhecimento de resultados e ao efeito de operações societárias. Esses itens, considerados de difícil avaliação devido à baixa liquidez e ao caráter não negociado de parte dos ativos, levantaram alertas adicionais sobre a capacidade do banco de honrar suas obrigações.
Entre os ativos que exigiram destaque dos auditores estavam fundos que somavam aproximadamente R$ 19,5 bilhões, compostos majoritariamente por papéis sem negociação ativa. Direitos creditórios e precatórios representavam outros R$ 8,7 bilhões, também com liquidez limitada. A auditoria listou ainda R$ 579 milhões em perdas esperadas com risco de crédito e registrou como tema relevante os ganhos decorrentes da compra vantajosa de instituições como Voiter e Letsbank, avaliados em R$ 536 milhões.
Especialistas apontam que parte do patrimônio anunciado pode ser substancialmente reduzida quando submetida a condições de venda forçada, processo comum em liquidações extrajudiciais. Avaliações preliminares indicam que ativos não líquidos tendem a sofrer deságio expressivo quando ofertados rapidamente ao mercado para pagamento de credores, o que pode ampliar a diferença entre o valor contábil e o valor realizável. Há ainda o reconhecimento de que alguns ativos identificados nas investigações não existiam de fato, o que reforça a expectativa de perda para investidores.
Segundo analistas do setor, a definição do valor final dos passivos e da capacidade de recuperação dependerá do relatório detalhado do interventor, responsável por consolidar informações sobre a real situação patrimonial da instituição e estabelecer a ordem de pagamento dos credores. A perspectiva, no entanto, é de que investidores com títulos do banco, como portadores de letras financeiras e aplicações de renda fixa, enfrentem perdas em maior ou menor grau. A extensão dessas perdas deverá ficar mais clara à medida que o processo de liquidação avance e que os ativos sejam formalmente avaliados.








