As incertezas sobre o impacto financeiro resultante da aquisição de carteiras de crédito com indícios de fraude do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB) seguem sendo motivo de preocupação entre autoridades e analistas. As operações investigadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, a partir de comunicações do Banco Central, somaram R$ 12,2 bilhões e ainda não há estimativa precisa sobre o reflexo desse montante nos ativos do banco público. A dimensão das perdas dependerá da capacidade de recuperação desses créditos e da efetiva exposição do BRB às operações consideradas irregulares.
Em posicionamento enviado à imprensa, o Master afirmou que os advogados de Daniel Vorcaro, controlador da instituição, e da própria empresa reiteraram disposição para colaborar com as autoridades, prestar esclarecimentos e participar de audiências. O BRB, por sua vez, declarou que atua em conformidade com normas de transparência e compliance, mantendo comunicação regular com o Banco Central e o Ministério Público Federal sobre todas as operações relacionadas ao Master.
A decisão da Justiça que autorizou prisões e apreensões no âmbito da Operação Compliance Zero apresenta, entretanto, elementos que indicam a possibilidade de prejuízo relevante. Conforme o relato do juiz responsável pelo caso, apenas em junho, três meses depois de o Banco Central ter questionado a qualidade dos títulos cedidos ao BRB, o banco estatal apresentou suas justificativas à autoridade monetária. Na resposta, informou ter adotado medidas de prudência e governança, mencionado a substituição das carteiras e o encerramento do negócio com a consultoria Tirreno, responsável por parte dos créditos, após a reprovação das garantias.
O magistrado, no entanto, destacou que a conclusão pelo desfazimento das operações ocorreu somente depois da transferência dos R$ 12,2 bilhões ao Master, o que elevou as dúvidas sobre o rigor do processo de avaliação das carteiras e sobre a efetividade dos mecanismos de controle interno. As investigações apontam que parte significativa das carteiras apresentava irregularidades, o que dificultaria a recuperação dos valores originalmente transferidos.
O juiz também chamou atenção para o fato de que o contrato previa dispositivos claros para casos de reprovação das garantias, incluindo a devolução imediata de R$ 6,7 bilhões da conta vinculada da Tirreno ao BRB. No entanto, em vez da execução direta do dispositivo contratual, a devolução passou a ser negociada de forma parcelada, em tranches mensais, modelo que não estava previsto nos termos da operação. Para os investigadores, esse desvio do formato original reforça a suspeita de que o BRB assumiu riscos superiores aos permitidos e continuou executando operações mesmo diante de ressalvas feitas pelo Banco Central.
À medida que as apurações avançam, cresce a possibilidade de que o banco público enfrente impactos contábeis e financeiros mais relevantes, sobretudo diante da dificuldade de recuperação das carteiras adquiridas e da suspeita de que parte delas não tenha lastro real. Os desdobramentos dependem das conclusões da PF, do MPF e do Banco Central, que seguem analisando a origem dos créditos, a legalidade das operações e a extensão das perdas potenciais.










