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PF investiga suposto esquema de desvio de emendas com ‘pedágio’ de 12%

Além de José Guimarães, também são mencionados recursos indicados pelos deputados Eunício Oliveira (MDB-CE) e Yuri do Paredão (MDB-CE)

A Polícia Federal investiga o envolvimento do deputado Júnior Mano (PSB-CE) em um suposto esquema de desvio de emendas parlamentares que teria operado com a cobrança de até 12% de “retorno” para liberar recursos a prefeituras cearenses. Segundo os investigadores, o valor era exigido como contrapartida para que os municípios recebessem verbas indicadas por parlamentares, em uma prática descrita pela PF como um esquema “institucionalizado de corrupção”.

Além de Júnior Mano, a apuração menciona os deputados José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, Eunício Oliveira (MDB-CE) e Yuri do Paredão (MDB-CE). Nenhum deles foi alvo da operação deflagrada nesta terça-feira (9), mas, segundo a PF, serão realizadas diligências adicionais para apurar a veracidade e o contexto das emendas atribuídas aos três parlamentares.

A operação foi autorizada pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e incluiu mandados de busca e apreensão no gabinete de Júnior Mano na Câmara dos Deputados, no imóvel funcional que ele utiliza em Brasília e em sua residência em Fortaleza. A PF afirma que o parlamentar “exercia papel central na manipulação dos pleitos eleitorais, tanto por meio da compra de votos quanto pelo direcionamento de recursos públicos desviados para beneficiar aliados políticos”.

O suposto operador do esquema seria Carlos Alberto Queiroz, o Bebeto, eleito prefeito de Choró (CE) em 2024, mas impedido de tomar posse por decisão da Justiça Eleitoral. De acordo com as investigações, Bebeto articulava a destinação das emendas e negociava os percentuais de propina, referidos nas conversas como “pedágio” ou “imposto”. Em mensagens interceptadas pela PF, ele trata com interlocutores ligados a Júnior Mano sobre o repasse de emendas para prefeituras específicas mediante pagamento irregular.

As investigações apontam ainda que os recursos desviados por meio de licitações supostamente fraudulentas abasteceram campanhas municipais em 2024 de aliados de Júnior Mano no interior do Ceará.

Em nota, o deputado Júnior Mano negou qualquer irregularidade e afirmou confiar que, ao fim da investigação, “sua correção de conduta será reconhecida”. O parlamentar também alegou não ter ingerência sobre atos administrativos das prefeituras envolvidas.

Sobre os demais citados, o deputado José Guimarães afirmou que não destinou emendas aos municípios apontados como beneficiários do suposto esquema. Ele negou relação com a cidade de Choró e disse que, nas eleições municipais mais recentes, apoiou um candidato do PT que foi derrotado. Em relação a Canindé, Guimarães afirmou que não indicou recursos nos anos de 2024 e 2025, conforme dados disponíveis no Siafi.

A assessoria de Eunício Oliveira informou que o deputado destina emendas de forma transparente a dezenas de municípios cearenses e que a indicação de recursos para Canindé ocorreu apenas em maio. Segundo a equipe, ele solicitou ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, a suspensão da transferência.

Já Yuri do Paredão afirmou, por meio da assessoria, que todos os recursos indicados estão disponíveis no Portal da Transferência da Câmara, demonstrando, segundo ele, transparência em sua atuação.

A PF também colheu o depoimento de uma ex-prefeita de Canindé, que afirmou ter rompido com o grupo político de Júnior Mano após se recusar a devolver 10% do valor de emendas atribuídas a José Guimarães. Mensagens interceptadas ainda mostram diálogos entre Bebeto e Yuri do Paredão, em que o parlamentar questiona sobre o aumento de limite de investimento em saúde em “alguma cidade sua” — expressão que, segundo a PF, sugere familiaridade com a estrutura do grupo investigado.

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