Mais da metade das exportações de cinco setores brasileiros têm os Estados Unidos como principal destino e devem ser diretamente afetadas pela tarifa de 50% anunciada pelo presidente Donald Trump. Juntas, essas indústrias enviaram US$ 4 bilhões em produtos para o mercado americano em 2023, segundo levantamento da Folha com base em dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).
O estudo revela a ampla diversificação da pauta exportadora brasileira para os EUA, que no ano passado recebeu produtos de cerca de 9.500 empresas nacionais, de acordo com a Câmara Americana de Comércio (Amcham). Ao todo, 30 segmentos destinaram pelo menos 25% de suas exportações ao mercado norte-americano, totalizando US$ 20,3 bilhões — metade de tudo o que o Brasil vende aos EUA.
Entre os setores mais vulneráveis, o de materiais de construção lidera em exposição, com 65,4% das exportações direcionadas aos Estados Unidos, o equivalente a US$ 802 milhões. Destacam-se nesse grupo as pedras de cantaria e rochas ornamentais, como mármores e granitos, com o Espírito Santo respondendo por 84,4% desses embarques.
Na segunda posição estão aeronaves, partes e peças, com 61,7% das exportações voltadas aos EUA, somando US$ 2,6 bilhões. A Embraer lidera o setor, com São Paulo sendo responsável por 91% dos envios ao mercado americano.
Armas e munições aparecem em terceiro lugar, com 61,3% das exportações destinadas aos EUA, o que representa US$ 323,8 milhões. A fabricante Taurus é destaque, e o Rio Grande do Sul lidera os embarques, respondendo por 52,5% do total enviado.
O segmento de peixes, crustáceos e moluscos também é fortemente dependente, com 60,8% da produção indo para os EUA. O Ceará, que responde por 24% desses envios, será o estado mais afetado. Em quinto lugar estão as peles com pelos, com 54,5% das exportações destinadas ao mercado americano — quase toda a produção (99%) tem origem no Rio Grande do Sul.
O Ceará é o estado com maior dependência comercial dos EUA, com 44,9% de suas exportações voltadas ao país, impulsionadas especialmente por ferro fundido e aço. Na sequência aparecem Espírito Santo (28,6%), Paraíba (21,6%), São Paulo (19%) e Sergipe (17,1%).
Na via contrária do comércio bilateral, o Brasil também é altamente dependente de alguns produtos dos Estados Unidos. O principal deles é o fósforo, responsável por 88% das exportações americanas desse item ao mundo. O Brasil também figura como destino de 81,8% dos compostos químicos derivados de metano, etano e propano vendidos pelos EUA, além de 81,5% da pasta de cacau exportada pelos norte-americanos.