A fusão entre o Banco Master e o Banco de Brasília (BRB), anunciada em março e ainda sob análise do Banco Central (BC), gerou um racha entre diretores da instituição. O clima de tensão chegou a tal ponto que Renato Gomes, diretor de Organização do Sistema Financeiro, avalia renunciar caso a operação seja aprovada. Gomes é contrário à fusão e defende uma intervenção no Master devido a irregularidades identificadas por um grupo interno de trabalho responsável por avaliar a saúde financeira dos bancos e os termos do negócio.
Fontes ligadas às discussões revelam que já existe até uma minuta de intervenção pronta. Gomes conta com o apoio do diretor de Regulação, Gilneu Vivan, mas diverge do diretor de Fiscalização, Aílton Aquino. Gabriel Galípolo, presidente do BC, tenta mediar o impasse para evitar que o caso escale.
Entre as irregularidades detectadas está uma operação do fim de 2024, quando o BRB adquiriu uma carteira de créditos do Master avaliada em cerca de R$ 12 bilhões, mas com suspeitas de falta de lastro. O BC e o Banco Master não se pronunciaram sobre as investigações.
Uma intervenção no Master teria forte repercussão política. Desde o anúncio da fusão, parlamentares mobilizaram um lobby para viabilizar o negócio e chegaram a articular a retirada de assinaturas que sustentariam uma CPI sobre o caso. A operação prevê que o BRB pague R$ 2 bilhões por 58% do Master, mantendo o controle com os atuais donos. Na prática, a aquisição funciona como um resgate financeiro, já que o banco paulista enfrenta sérios problemas de liquidez.
O modelo de captação do Master também levanta dúvidas no mercado. A instituição oferecia CDBs com rentabilidade superior à média e comissões mais altas para agentes de venda. Além disso, arrecadou R$ 1,867 bilhão com letras financeiras direcionadas a fundos de previdência estaduais e municipais, papéis recusados pela Caixa Econômica Federal por serem considerados arriscados.
Outro ponto sensível são os precatórios usados pelo Master, que representam parte expressiva de seus ativos. Esses títulos são alvo de investigação da Polícia Federal por suspeita de fraude e inflacionamento de valores no balanço do banco. Auditoria da KPMG classificou os precatórios como “principal assunto de auditoria”, exigindo análise especial devido à dificuldade de precificação.
A polêmica se concentra no índice de Basileia — indicador que mede a solidez financeira de instituições bancárias. A suspeita é de que a reavaliação dos ativos, incluindo os precatórios, tenha sido usada para manter o banco dentro dos limites exigidos pelo BC e garantir sua operação.
As análises internas prosseguem e nenhuma decisão foi tomada. No entanto, diante da gravidade das divergências e do impacto político e financeiro do caso, qualquer desfecho promete repercussões significativas para o sistema bancário e para o próprio Banco Central.