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EUA vão investigar avanço chinês no agronegócio brasileiro

Congresso americano vai encomendar relatório de inteligência sobre as relações entre os dois países

O agronegócio brasileiro entrou no foco da inteligência dos Estados Unidos em meio à escalada da disputa comercial entre Washington e Pequim. Um projeto de lei em tramitação no Senado americano propõe investigar detalhadamente os investimentos chineses no setor agrícola brasileiro, movimento inédito e que reflete o peso estratégico que o país passou a ter nas relações geopolíticas globais. A proposta faz parte da Intelligence Authorization Act, legislação que define o orçamento e as prioridades de agências como a CIA e a NSA para o ano fiscal de 2026, que começa em outubro.

O texto, com 280 páginas, cita o Brasil dez vezes no capítulo dedicado à China e já foi aprovado pela Comissão de Inteligência do Senado por ampla maioria. Se for sancionado, determinará que a diretora nacional de inteligência, Tulsi Gabbard, elabore em até 90 dias um relatório detalhando a presença chinesa no agronegócio brasileiro. O documento deverá mapear o grau de envolvimento do governo de Xi Jinping com autoridades brasileiras, o número de empresas chinesas atuando no setor e os impactos desses investimentos para cadeias de suprimento globais e para a segurança alimentar dos Estados Unidos. A investigação também incluirá dados sobre infraestrutura, terras agrícolas e produção de energia ligadas ao capital chinês, com possibilidade de anexos confidenciais.

A inclusão do Brasil no radar de inteligência americano ocorre poucos dias após Donald Trump oficializar tarifas de 50% sobre exportações brasileiras, atingindo parte relevante da pauta agrícola do país e aumentando as tensões diplomáticas. Apesar de algumas exceções na taxação, como suco de laranja, celulose e aeronaves da Embraer, o impacto sobre produtos como café e carnes deve ser significativo. O próprio Trump justificou as tarifas alegando que políticas e práticas recentes do governo brasileiro “ameaçam a segurança nacional e a economia dos Estados Unidos”, além de citar o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e suposta censura a empresas americanas de tecnologia.

Para analistas, a investigação reforça a estratégia de Washington de conter a influência chinesa na América Latina. A China já é o principal parceiro comercial do Brasil e vem ampliando investimentos em áreas estratégicas como energia, infraestrutura e agricultura. Essa presença crescente preocupa os EUA, que veem riscos tanto econômicos quanto de segurança nacional. O relator do projeto, senador Tom Cotton, é um dos críticos mais ferrenhos de Pequim e defende medidas mais duras contra o avanço chinês, argumentando que a disputa vai além do comércio e envolve influência política e militar.

A tramitação do projeto deve avançar rapidamente, já que precisa estar em vigor antes do início do novo ano fiscal. Se aprovado, o relatório produzido pela inteligência americana poderá servir de base para futuras políticas de comércio e segurança dos EUA, intensificando a pressão sobre o Brasil num momento em que o país busca equilibrar sua relação com os dois gigantes econômicos.

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