A Suíça enfrenta um dos maiores abalos em sua relação comercial com os Estados Unidos após o anúncio de uma tarifa de 39% sobre seus produtos, medida decretada pelo presidente americano Donald Trump. A decisão, divulgada na noite de quinta-feira (31), surpreendeu o governo suíço e caiu como um choque sobre a população nesta sexta-feira, feriado nacional no país alpino.
Entre os itens afetados estão medicamentos, instrumentos de precisão e até cápsulas de café — setores em que a Suíça é fortemente competitiva no mercado internacional. A nova taxa, considerada uma das mais elevadas aplicadas por Washington, entra em vigor caso não haja acordo comercial entre os dois países até 7 de agosto.
A presidente suíça Karin Keller-Sutter relatou ter tentado negociar com Trump na véspera do anúncio, mas as conversas não resultaram em consenso. Para o mandatário americano, o déficit comercial dos Estados Unidos com a Suíça é a principal justificativa para o aumento tarifário. Especialistas, no entanto, apontam que mais da metade desse déficit se deve a barras e lingotes de ouro refinados na Suíça e exportados em larga escala para o mercado americano — produtos que, ironicamente, não estão incluídos na tarifa imposta.
A notícia provocou reação imediata do setor empresarial suíço. Associações comerciais alertaram que, sem um acordo rápido, os produtos do país se tornarão menos competitivos em relação a importações da União Europeia e do Reino Unido, que possuem tarifas significativamente menores — 15% e 10%, respectivamente.
No mercado financeiro, o impacto foi imediato. As ações da Watches of Switzerland, fabricante de relógios de luxo e um dos símbolos da exportação suíça, despencaram mais de 6% na Bolsa de Londres, atingindo o menor valor em anos.
Para Stefan Legge, chefe de Política Tributária e Comercial do Instituto de Direito e Economia da Suíça, a situação ainda pode mudar, já que Trump tem histórico de reviravoltas inesperadas em negociações. “Mas a incerteza constante é o que mais incomoda”, afirmou.
O episódio ocorre em meio a uma pressão adicional do governo americano sobre o setor farmacêutico. Paralelamente ao anúncio tarifário, Washington enviou cartas a grandes empresas suíças do segmento, como Roche e Novartis, exigindo cortes nos preços de medicamentos vendidos aos consumidores dos Estados Unidos.