Com a taxa Selic mantida em 15% ao ano, a atratividade da renda fixa segue em alta, especialmente no Tesouro Direto — programa que permite a compra de títulos públicos federais por pessoas físicas, fruto de parceria entre o Tesouro Nacional e a B3. O ambiente de juros elevados tem levado investidores a reforçar suas posições, elevando o estoque de papéis. Sem considerar a marcação a mercado, o volume investido atingiu R$ 180,4 bilhões no fim do segundo trimestre, alta de 2,4% em relação ao mês anterior e de 25,9% frente a junho de 2024.
Apesar do aumento expressivo no montante, o avanço no número de investidores foi mais moderado: 3,04 milhões de CPFs possuíam títulos em carteira, 14,3% acima do registrado um ano antes. Isso indica que quem já aplica no Tesouro Direto está alocando mais recursos. Jason Vieira, economista-chefe do Grupo Lev, explica que a combinação de uma das maiores taxas de juros reais do mundo, baixa rentabilidade da poupança e volatilidade na Bolsa cria um cenário favorável para a renda fixa pública. Ele destaca que o Tesouro oferece segurança, simplicidade e, no caso do Tesouro Selic 2031, retorno bruto de 15,1% ao ano, com liquidez diária e sem risco de perda no valor investido — contra apenas 8,23% ao ano da poupança.
A média de recursos por investidor é de R$ 59,3 mil, embora a maioria das compras seja de pequeno valor: em junho, 57,1% das operações foram de até R$ 1.000. O perfil predominante é masculino (72,9%), com idade entre 26 e 45 anos (57%) e residente no Sudeste (51,9%). Em termos de composição, mais da metade do estoque (51,4%) está aplicada em títulos atrelados à inflação (Tesouro IPCA+), seguidos pelo Tesouro Selic (36%) e pelos prefixados (12,6%).
Quanto aos prazos, 50,7% dos investimentos vencem entre um e cinco anos, 26,4% entre cinco e dez anos e 6,3% em até um ano. Papéis de longo prazo, acima de dez anos, representam 16,6% do total. Analistas recomendam, no momento, maior exposição aos pós-fixados, que acompanham a Selic, dado que a taxa deve permanecer no atual patamar até 2026. Segundo Lucas Constantino, estrategista-chefe da GCB Investimentos, trata-se de uma oportunidade de obter retorno elevado sem abrir mão da liquidez.
Projeções do mercado indicam que, com o IPCA estimado em 4,44% nos próximos 12 meses, o Tesouro IPCA+ 2029 entregaria 12,3% de retorno no período, enquanto o prefixado 2028 renderia 13,5% ao ano. No horizonte mais longo, as expectativas da pesquisa Focus apontam para queda da Selic, alcançando 12,5% em 2026 e 10,5% em 2027. Isso reforça a atratividade dos títulos híbridos, que oferecem juros reais de 7,83% no IPCA+ 2029 e 7,27% no IPCA+ 2045.
Constantino sugere, para o cenário atual, uma carteira com prefixados de dois a três anos, IPCA+ de três a cinco anos e peso maior no Tesouro Selic. Ainda assim, ele e outros especialistas ressaltam que a escolha deve respeitar o perfil de risco de cada investidor. Mais conservadores devem priorizar pós-fixados, enquanto híbridos e prefixados exigem disposição para manter o papel até o vencimento, já que o resgate antecipado pode gerar perdas em função das oscilações de preço no mercado secundário.