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Guerra comercial ameaça reduzir investimentos dos EUA no Brasil

Especialistas apontam que, embora o estoque de capital já aplicado no país continue expressivo, novas expansões de empresas americanas podem ser paralisadas

A escalada da guerra comercial entre Brasil e Estados Unidos deve provocar uma redução imediata no fluxo de investimentos estrangeiros norte-americanos, o que acende um alerta sobre a economia brasileira. Especialistas apontam que, embora o estoque de capital já aplicado no país continue expressivo, novas expansões de empresas americanas podem ser paralisadas até que haja clareza sobre o cenário tarifário.

Em 2023, os EUA foram disparados o maior investidor no Brasil, com US$ 272,8 bilhões — número quatro vezes superior ao da Espanha, segunda colocada no ranking do Banco Central, com US$ 66,8 bilhões. O levantamento atualizado, referente a 2024, será divulgado em setembro, mas a expectativa é de que a guerra comercial altere o perfil desse fluxo.

Segundo o economista Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior, companhias norte-americanas dificilmente irão expandir negócios no Brasil enquanto a sobretaxa de 50% imposta por Donald Trump sobre produtos brasileiros estiver em vigor. “A empresa americana situada no Brasil não vai ampliar o investimento enquanto houver essa pendência. Isso impacta diretamente o futuro”, disse. Barral acredita que, caso haja uma troca de comando na Casa Branca, esse impasse pode ser revertido rapidamente.

Mas os impactos já se fazem sentir. José Ronaldo de Souza, economista-chefe da Leme Consultores, lembra que há cadeias produtivas fortemente interligadas entre os dois países, o que gera entraves logísticos. “Parte da produção acontece aqui e parte nos Estados Unidos. O conflito cria uma dificuldade real de exportar o que é fabricado no Brasil”, explicou.

O risco de retaliação é outro fator de preocupação. O professor Ecio Costa, da Universidade Federal de Pernambuco, afirma que uma resposta do Brasil com tarifas semelhantes poderia levar Trump a dobrar a taxação para 100%, ampliando a instabilidade e congelando novos aportes. “Nesse cenário, o balanço de pagamentos do país seria afetado de forma grave”, acrescentou.

O problema é que a conta corrente brasileira já apresenta déficit estrutural. O saldo comercial, hoje positivo, ajuda a reduzir essa diferença, mas o equilíbrio só é garantido pela entrada de investimento estrangeiro direto, que injeta dólares na economia e fortalece as reservas internacionais. Sem os aportes dos EUA, que representam a maior fatia desse fluxo, o Brasil teria dificuldades para manter a mesma robustez cambial.

Ainda que outras economias, como a China e a União Europeia, ampliem sua presença no país, especialistas afirmam que nenhuma delas tem condições de ocupar o papel de maior investidor no curto prazo. “Não vejo grandes players assumindo esse espaço dos Estados Unidos. O risco, portanto, é de uma desaceleração econômica significativa”, avaliou Costa.

Para além da economia, as tensões comerciais somam-se a um desgaste diplomático crescente. O aumento do risco político eleva a percepção de incerteza entre investidores, que tendem a adotar uma postura defensiva, suspendendo ou adiando projetos. A leitura do mercado é clara: enquanto persistir o impasse tarifário e político entre Brasília e Washington, o Brasil ficará sujeito a um ambiente de investimentos mais restrito, com impactos diretos sobre crescimento, confiança e geração de empregos.

(Com informações do Poder 360)

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