O crescimento do crédito no Brasil perdeu fôlego em meio à moderação da atividade econômica, mas ainda se mantém em um patamar historicamente elevado, mesmo diante das condições financeiras mais restritivas. A avaliação foi feita pelo Banco Central nesta quarta-feira (20), após reunião do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef).
Segundo o BC, o cenário de taxa Selic em nível contracionista, combinado com o atual grau de inadimplência, endividamento de famílias e empresas, exige cautela redobrada na concessão de crédito. O Comef destacou que, em geral, os bancos preservam voluntariamente capital e liquidez acima dos níveis prudenciais, o que foi confirmado por testes de estresse.
A nota também ressaltou a atenção às condições financeiras internacionais, monitorando os impactos das políticas monetária e fiscal em economias avançadas, as mudanças no comércio global, a reprecificação de ativos financeiros e a evolução das tensões geopolíticas.
Apesar do cenário de risco, o BC decidiu manter em 0% o chamado Adicional Contracíclico de Capital Principal (ACCP), que serve como reserva de proteção em períodos de expansão acelerada do crédito ou de retração brusca da oferta. A autoridade monetária já havia sinalizado em maio a possibilidade de elevar o patamar, mas preferiu adiar a medida.
O Banco Central explicou que o objetivo da aplicação positiva do ACCP seria ampliar a margem prudencial do sistema financeiro, permitindo que os bancos absorvessem perdas em caso de reversão abrupta do ciclo de crédito, valorização excessiva de ativos ou choques inesperados.
Com a Selic mantida em 15% ao ano para conter a inflação e esfriar a economia, o BC reconhece que a desaceleração no mercado de crédito se tornou mais nítida. Ainda assim, reforça que o ritmo continua elevado em comparação com padrões históricos, exigindo vigilância adicional.