O vice-chairman do Nubank e ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que o Brasil até pode reduzir a Selic no curto prazo, mas ainda não possui fundamentos sólidos para sustentar juros estruturalmente mais baixos. A avaliação foi feita nesta segunda-feira (25), durante o III Seminário Brasil Hoje, organizado pela Esfera Brasil.
Para Campos Neto, o grande entrave é a trajetória da dívida pública, que continua em crescimento mesmo em cenários considerados otimistas. Ele calculou que, com a Selic em torno de 11% ao ano, o endividamento bruto ainda avançaria entre 3,5% e 5% anualmente — ritmo elevado em comparação com outros países emergentes.
Segundo o executivo, apenas um “choque fiscal positivo” poderia mudar essa percepção, aumentando a confiança na sustentabilidade das contas públicas e permitindo a queda das taxas longas da curva de juros. Sem isso, disse ele, os cortes promovidos pelo Banco Central têm efeito limitado: “É muito difícil um BC reduzir os juros quando a taxa longa continua elevada”.
Campos Neto também defendeu um debate sobre o tamanho do Estado brasileiro, que, na sua visão, gasta acima da média de economias de porte similar, mas sem oferecer serviços compatíveis. Para ele, a combinação de alto gasto público e dívida crescente mantém o país preso a juros altos.
Apesar desse quadro estrutural, Campos Neto reconheceu que há espaço para reduções adicionais da Selic no curto prazo. No entanto, reforçou que, sem mudanças mais profundas na política fiscal, esse movimento não será suficiente para alterar a dinâmica da dívida nem garantir taxas baixas de forma duradoura.