O tarifaço imposto pelos Estados Unidos contra o Brasil começa a ganhar contornos mais claros nas projeções econômicas. De acordo com o Itaú Unibanco, a tarifa efetiva aplicada sobre todos os produtos brasileiros exportados para o mercado americano está em 30%, considerando a sobretaxa de 50% anunciada pelo governo de Donald Trump e as 694 isenções publicadas em julho — muitas delas voltadas ao setor de aeronaves.
A estimativa do banco vem em linha com a análise do Goldman Sachs, que calculou uma taxa efetiva de 30,8%. O impacto esperado, segundo o Itaú, é de uma redução de 0,1% no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. O economista-chefe da instituição, Mário Mesquita, explicou que os cálculos foram feitos com base na tarifa atual, sem levar em conta a possibilidade de novos aumentos.
O cenário preocupa o governo brasileiro. Integrantes do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF) avaliam como real a chance de Trump adotar novas sanções econômicas contra o Brasil, em meio ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, marcado para setembro. A apreensão aumentou após decisão do ministro Flávio Dino de que ordens judiciais e executivas de governos estrangeiros só terão validade no país se confirmadas pelo STF.
Enquanto isso, os canais de diálogo entre Brasília e Washington seguem praticamente fechados. Na terça-feira (26), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar as tarifas impostas pelos EUA, atacou o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e reforçou a cobrança por maior regulamentação das big techs.
Segundo Mesquita, a política comercial americana também deve ter efeitos internos nos Estados Unidos, ao gerar um choque de oferta com viés inflacionário, o que tende a limitar o espaço para cortes mais agressivos de juros. Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, sinalizou que a instituição poderá iniciar um ciclo de cortes já em setembro, mas a expectativa é de que o movimento seja mais contido que o previsto pelo mercado, diante da economia aquecida e do desemprego baixo.
No Brasil, o Itaú também atualizou suas projeções. O banco espera que o PIB cresça 2,2% em 2025 (abaixo da estimativa do Ministério da Fazenda, de 2,5%) e desacelere para 1,5% em 2026. Para a inflação, a previsão é de IPCA em 5,1% em 2025, acima da meta do Banco Central, e convergindo para 4,4% em 2026, dentro do intervalo de tolerância.
As estimativas contrastam com as projeções do Boletim Focus, que aponta IPCA de 4,86% em 2025 e 4,33% em 2026. Para Mesquita, a queda recente das expectativas é reflexo direto da política monetária restritiva e reforça a necessidade de manutenção da atual estratégia do Banco Central.