As exportações brasileiras de máquinas e equipamentos para os Estados Unidos podem praticamente parar a partir de setembro por causa da sobretaxa imposta pelo governo Donald Trump. O alerta foi feito nesta quarta-feira (27) pela diretora de competitividade, economia e estatística da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Cristina Zanella. Segundo ela, as tarifas extras de 40% sobre o setor, somadas à taxa mínima de 10%, tiraram a competitividade das empresas brasileiras. “O impacto vai ser sentido de forma mais intensa a partir do próximo mês. As exportações tendem a zero para aquele mercado, houve perda muito grande de competitividade por causa da sobretaxa”, afirmou.
Os Estados Unidos são o principal destino das exportações brasileiras de máquinas, absorvendo cerca de 26% das vendas externas do setor, o equivalente a aproximadamente US$ 300 milhões por mês, de acordo com dados da Abimaq. Mesmo com a decisão americana de tributar qualquer produto com aço ou alumínio sob a chamada Seção 232 da Lei de Expansão Comercial — o que poderia reduzir parcialmente a desvantagem do Brasil —, a entidade avalia que a concorrência seguirá desfavorável. Isso porque países como Canadá e México continuam isentos, enquanto o Brasil está entre os mais penalizados, ao lado da Índia.
Zanella ressaltou que, ao analisar as diferentes categorias de máquinas, muitas que não utilizam diretamente aço ou alumínio também serão atingidas por tarifas recíprocas, o que torna a concorrência ainda mais desigual. “Vai diminuir a diferença em alguns segmentos, mas a carga brasileira segue entre as mais altas. Produtos dos EUA, Canadá e México continuarão com tarifa zero”, explicou.
Diante do cenário, a Abimaq reconhece a importância das medidas anunciadas pelo governo brasileiro para mitigar perdas, como o reforço no Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários (Reintegra), que devolve parte dos tributos pagos ao longo da cadeia produtiva. O plano prevê aumento de três pontos percentuais no crédito tributário para exportadores que vendem aos EUA até dezembro de 2026: até 3,1% para grandes e médias empresas e até 6% para micro e pequenas.
Apesar disso, Zanella avalia que o alcance da medida é limitado e deveria ser ampliado. “O crédito foi anunciado apenas para exportadores aos EUA, mas provavelmente as empresas vão deixar de exportar para lá. O que esperamos é que o governo estenda o Reintegra para todos os exportadores, independentemente do mercado, porque assim conseguimos dar competitividade global ao setor”, afirmou.
Para a entidade, a antecipação dos efeitos da reforma tributária, prevista para entrar em vigor em 2027, pode ajudar a aliviar parte da pressão, mas dificilmente compensará o choque provocado pela sobretaxa americana. Caso as vendas para os EUA realmente parem, a indústria terá de buscar alternativas em outros mercados para tentar manter o ritmo de produção e preservar empregos no Brasil.









