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Mesmo com alta histórica da Bolsa, Previ reduz exposição em ações e aposta em NTN-Bs

Mesmo com alta de 19% do Ibovespa em 2025, Previ reduz posições em ações como BRF e Neoenergia e reforça alocação em NTN-Bs

A Bolsa brasileira acumula uma valorização expressiva de 19% em 2025, renovando recordes históricos em meio às expectativas de cortes de juros no Brasil e nos Estados Unidos. O movimento tem reforçado a atratividade da renda variável sobre a renda fixa e atraído investidores para o mercado acionário. Mas, na contramão do entusiasmo de parte do mercado, a Previ, fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil (BBAS3), que administra R$ 267 bilhões em ativos, optou por reduzir sua exposição em ações.

De acordo com o presidente da fundação, João Fukunaga, a Previ está conduzindo um desinvestimento de cerca de R$ 7 bilhões em ações, que envolve a venda total ou parcial de participações em 12 empresas. Parte dessas operações já foi realizada. Uma das mais emblemáticas foi a venda de R$ 2 bilhões em papéis da BRF (BRFS3), após a fusão da companhia com a Marfrig (MRFG3), que resultou na criação da MBRF. A operação foi alvo de críticas da fundação, que não concordava com os termos da união entre as empresas.

Outro movimento de grande impacto foi a venda da participação de 30,29% na Neoenergia (NEOE3), que rendeu R$ 11,95 bilhões (equivalentes a 1,88 bilhão de euros) à Previ. Os papéis foram adquiridos pela espanhola Iberdrola, que já era controladora da empresa. Fukunaga explicou que a decisão de sair dessas posições está ligada ao baixo retorno das ações, mesmo quando se leva em conta o fluxo de dividendos, e também à estratégia de imunização do passivo da entidade, que prioriza maior segurança e previsibilidade.

“Estamos fazendo o desinvestimento por entender que há espaço, do ponto de vista do equity, para sair e comprar NTN-Bs”, disse o presidente da Previ, em referência às Notas do Tesouro Nacional – Série B, títulos indexados à inflação. Segundo ele, a fundação enxerga mais oportunidades nesse tipo de ativo do que no mercado acionário, mesmo em um momento de alta expressiva do Ibovespa. A ideia é garantir a estabilidade dos planos de benefícios, em linha com a política de investimentos aprovada pela diretoria e pelo Conselho Deliberativo.

Parte das vendas ainda está em andamento e, por isso, a Previ não revelou quais são as demais empresas envolvidas. Fukunaga reforçou, porém, que todas as movimentações respeitam as regras estabelecidas pelo fundo e fazem parte de uma estratégia de longo prazo. “Estamos buscando a melhor relação entre risco e retorno, com foco em honrar compromissos futuros com os associados”, acrescentou.

O cenário de readequação da carteira ocorre em um momento positivo para a fundação. Após meses de resultados negativos, o Plano 1 voltou a registrar superávit em 2025, com saldo positivo de aproximadamente R$ 1 bilhão. No acumulado do ano, o ganho é de R$ 4,1 bilhões, com rendimento de 1,84% apenas em agosto e 8,97% de janeiro a agosto. Para Fukunaga, esses números mostram a resiliência da estratégia adotada pela Previ. “O resultado confirma tudo aquilo que a gente vem dizendo desde a época do resultado anual em março: são momentos de conjuntura. Este ano tem sido de sobressaltos, com fatores como o tarifaço dos Estados Unidos”, afirmou.

Enquanto a Previ adota uma postura cautelosa, analistas seguem confiantes com o desempenho da Bolsa. Em relatório publicado nesta quinta-feira (9), a Ativa Investimentos reafirmou sua projeção de que o Ibovespa pode chegar a 148 mil pontos até o fim do ano. Para a corretora, o ciclo doméstico de juros parece já ter atingido o pico, e uma melhora no ambiente político e eleitoral pode funcionar como catalisador para novas altas.

No cenário internacional, a Ativa destaca que a inflação persistente nos Estados Unidos, combinada ao crescimento econômico ainda robusto, contrasta com sinais de fraqueza no mercado de trabalho. Esse quadro, segundo a corretora, reforça a expectativa de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed). “A materialização do cenário atualmente embutido na curva americana já seria suficiente para impulsionar fluxos de capital para mercados emergentes, beneficiando o Brasil”, escreveu a equipe de análise.

Assim, enquanto investidores celebram os ganhos do Ibovespa e esperam por novos recordes, a Previ mantém o foco na segurança de longo prazo, priorizando ativos de renda fixa como as NTN-Bs para garantir a solidez de seus planos. A estratégia da fundação mostra que, mesmo em tempos de euforia no mercado acionário, instituições de grande porte seguem com cautela diante de riscos estruturais e da necessidade de preservar recursos para compromissos futuros.

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